É consenso entre os principais bancos centrais do mundo: a situação brasileira é preocupante e merece atenção. Ontem, durante a assembléia anual do Banco Internacional de Pagamento (BIS), várias autoridades e presidentes de bancos centrais alertaram sobre os ataques sofridos pela moeda brasileira nos últimos dias. "Existe um consenso na comunidade internacional de que o Brasil é uma fonte de preocupação", afirma o diretor do BIS, Andrew Crockett. Outro que se soma à lista daqueles que estão apreensivos com os acontecimentos no Brasil é o presidente do Banco Central de Luxembrugo, Yves Mersch. "É uma situação que preocupa", diz. Mas na avaliação da maioria dos membros do BIS, a realidade brasileira não é causada pela falta de políticas macroeconômicas sólidas, mas fruto das eleições que ocorrem no País em outubro. "O Brasil adotou medidas corajosas nos últimos anos e o mercado internacional tem reconhecido isso. A questão agora é claramente política e relacionada às incertezas sobre quem ocupará a presidência do País no próximo ano", afirma Crockett, que deixará o cargo de diretor do BIS em março do próximo ano. O presidente do BC britânico, Sir Edward George, também classifica a situação brasileira como resultado de um processo político. Segundo ele, a indefinição sobre as políticas econômicas que poderão ser adotadas pelo novo governo brasileiro, em 2003, colabora para a turbulência. "Seria uma pena perder três anos de bons resultados", afirma o inglês. Na opinião de Crockett, do BIS, o candidato que vencer as eleições deveria adotar uma política "prudente" e "respeitar os mercado". Para o presidente do Banco Central mexicano, Guillermo Ortiz, o Brasil passa por uma "volatilidade importante" e as respostas devem ser dadas internamente. "O Brasil precisa reduzir a percepção de risco que existe sobre o País", defende Ortiz. Para ele, porém, um obstáculo na busca de estabilidade é a fragilidade das instituições, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina. "Temos instituições que necessitam se fortalecer para suportar as mudanças de governo", afirma Ortiz, lembrando que a América Latina é atualmente uma das regiões mais frágeis do planeta em termos financeiros. "A região passa por um dos momentos mais difíceis desde década de 80", diz.