29 de outubro de 2010 | 00h00
O BC já disse publicamente que não reage aos efeitos primários de choques de oferta na inflação, apenas aos efeitos secundários. Um exemplo prático para ilustrar: se o preço do petróleo dispara, o BC só eleva o juro se tal movimento contaminar os preços de plásticos, produtos químicos, etc. No caso dos alimentos, a avaliação é de que os efeitos secundários são pequenos.
A autoridade monetária também já afirmou em mais de uma ocasião que a potência da política monetária aumentou no País nos últimos anos. Em termos práticos, significa dizer que o ciclo de elevações da Selic neste ano (que saiu de 8,75% para 10,75% ao ano) seria suficiente para manter a inflação na meta.
Há, porém, um terceiro fator que ajuda a explicar por que essa parte do mercado tem divergido fortemente do BC. Trata-se do efeito deflacionista da crise global no Brasil. Os preços dos produtos importados vêm registrando deflação nos últimos meses, o que tem compensado a alta dos preços dos serviços.
O recuo na inflação dos importados resulta da queda do dólar aqui dentro e dos preços mais baixos dos produtos manufaturados mundo afora. Em meio à crise que ainda atinge os países desenvolvidos, fabricantes têm feito o que podem para ganhar mercado nos emergentes.
Tradicionalmente, os serviços são uma grande dor de cabeça para o BC brasileiro quando a economia vive uma situação como a atual, com aumento do emprego, da renda etc. Em condições normais, seria um argumento mais do que suficiente para fazer o BC elevar a Selic. Mas o mundo econômico de hoje é tudo, menos normal.
No ambiente atual, a chamada taxa de juros de equilíbrio (ou seja, que mantém a inflação na meta de 4,5%) é provavelmente mais baixa do que "normalmente". A divergência do BC com o mercado pode estar aí. A autoridade monetária enxerga isso com mais clareza e acredita que, nas condições de hoje, o juro pode, sim, ser menor. Uma parte do mercado financeiro ainda resiste a avalizar essa hipótese.
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