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Para disputar 800 vagas, candidatos passam mais de dez horas em fila de emprego no centro de SP 

Processo seletivo, que começou na segunda-feira e termina nesta sexta, é parceria de sindicato com empresa de serviços terceirizados 

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Por Felipe Siqueira
Atualização:

De segunda-feira, 26, até esta sexta, 30, mais de 5 mil pessoas passaram pela Alameda Eduardo Prado, na altura do número 628, para tentar uma vaga de emprego, nas funções de auxiliar e encarregado de limpeza, porteiro, recepcionista e funções administrativas. 

Fila de desemprego em frente ao sindicato Foto: Felipe Rau/Estadão

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O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbanas (Siemaco), em parceria com uma empresa de serviços terceirizados, organizou o processo seletivo para contratação de 800 pessoas. 

De acordo com o diretor financeiro do Siemaco, André dos Santos, cerca de 4 mil fichas de atendimento foram distribuídas durante toda a semana - não houve ficha suficiente para todos os candidatos. América Cecília Barbosa, de 51 anos, conseguiu pegar uma. Na quinta-feira, 29, ela saiu de casa, na zona norte de São Paulo ainda de madrugada e chegou ao sindicato às 4h15. Só nesse dia, cerca de 2,5 mil pessoas ficaram na fila do sindicato. 

América Cecília Barbosa, de 51 anos Foto: Felipe Rau/Estadão

Desempregada há dois anos, América fez bicos no período, como cuidadora de uma idosa e passadeira de roupas, mas há mais de um ano não consegue nenhum tipo de remuneração - a única renda de casa é a do marido, que trabalha como açougueiro em um supermercado. A maior dificuldade, segundo ela, é a idade.

“Levo muita porta na cara. Tem muita rejeição por eu ter 51 anos, não estão dando oportunidade, por mais que tenha experiência”, conta. Além disso, diz, como está sem emprego há muito tempo, não tem condições de investir na apresentação pessoal, como roupas e cuidados com a aparência.

Francisco França, de 25 anos, também passou pelo processo de seleção. Sua carteira de trabalho só conta com três registros, curtos, todos na área de limpeza. Mas o que ele queria mesmo é trabalhar com cozinha. “Gosto de cozinhar, mas nunca exerci. Se pudesse, abriria um restaurante”, diz. 

Francisco França, de 25 anos Foto: Felipe Rau/Estadão

Por enquanto, a oportunidade que ele teve de trabalhar com o ramo de comida foi fazendo entregas por aplicativos, percorrendo de bicicleta regiões como Vila Olímpia, Itaim Bibi e Pinheiros, com pedidos de clientes. Por mais de seis meses, esse foi seu ganha pão, mas se enrolou em dívidas e agora não consegue pagar por um pacote de internet, essencial para trabalhar com os aplicativos. Hoje, vive com a renda de sua companheira, que é diarista. 

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Ele não gostaria de voltar para o serviço de entrega. “É muito cansativo. Eu ia pedalando do Capão Redondo até o Itaim Bibi todo dia. É onde vai ter demanda." Esse trajeto tem cerca de 15 quilômetros. 

Na quinta-feira, América e Francisco ficaram cerca de dez horas sem nenhum tipo de alimentação. “A gente está parada, fiquei sem comer, não tenho dinheiro para comer na rua”, conta ela, que só chegou em casa às 17h.

As remunerações das vagas oferecidas no sindicato variam de R$ 1.160 a R$ 1.600, além dos benefícios, como cesta básica, ticket-refeição e participação em resultados. O processo de seleção termina na semana que vem, para início do trabalho em outubro.

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