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Para economista, Selic já poderia estar um ponto mais baixa

Ex-secretário de Política Econômica diz que houve atraso no início da redução da taxa básica de juros da economia

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - A deflação de maio e a queda do IPCA para 3% acumulados em 12 meses esquentou o debate sobre o quanto o Banco Central (BC) continua “atrás da curva” no processo de redução de juros. O termo é utilizado pelos economistas para mostrar que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria ter começado mais cedo o processo de queda da Taxa Selic e já haveria espaço para um patamar de juros mais baixos do que o atual de 10,25%.

Estudo do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Manoel Pires, incluído para debate entre os economistas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) procura mostrar que esse demora do BC anda “jogando contra” a recuperação da economia brasileira, quando se esperava que a redução dos juros básicos estivesse contribuindo mais para a retomada do crescimento.

Corte foi o oitavo consecutivo e taxa já é a menor desde julho de 2013, quando estava em 8% Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Esse quadro se agravou na situação atual dos juros reais da economia – taxa em que é descontada a inflação. Na prática, esse é o juro que importa para atividade econômica e que continua bastante elevado. É que o processo de queda da inflação foi tão mais rápido e surpreendente que a queda da taxa Selic não acompanhou. Ou seja, os trabalhadores e as empresas não estariam ainda sendo amplamente beneficiados pela queda da inflação mais rápida.

Para Pires, a taxa Selic poderia estar num nível pelo menos 1 ponto porcentual abaixo do que está hoje, não fosse esse atraso no início da redução dos juros. Ele avalia que há espaço para uma queda da Selic para 8% até o final do ano.

Procurada, a assessoria do BC rebateu as avaliações do economista afirmando que sob o regime de metas de inflação não se pode definir a taxa neutra como aquela que equilibra a remuneração dos ativos domésticos e externos, como fez Manoel Pires no estudo para mostrar que o BC estaria atrás da curva. A medida proposta seria mais útil em regimes de câmbio fixo, em que o juro é calibrado para afetar o fluxo de capitais via diferencial de juros. A taxa de juros no nosso regime (metas de inflação com regime de câmbio flutuante) funciona para estabilizar a inflação em torno da meta.

Para o BC, taxas de juros reais que levam em conta juros e inflação que ocorreram no passado não são relevantes para decisões dos agentes econômicos. Dessa forma, não se deve utilizar essa medida para averiguar se a política monetária é expansionista ou contracionista. A taxas relevantes para a tomada de decisão dos agentes econômicos são as ex-ante (para frente). Estas taxas já estão abaixo da média histórica, afirma o BC.

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