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Para economistas, nova equipe abre diálogo com setor privado

Na visão dos especialistas, no entanto, governo terá de agir rapidamente para não perder a confiança dos investidores

Por Daniela Amorim (Broadcast) e Idiana Tomazelli
Atualização:

RIO - A posse de Michel Temer (PMDB) como presidente da República abre oportunidade para dar fim à crise política e econômica, diante da maior credibilidade da nova equipe e da capacidade de diálogo com o setor privado, avaliam economistas. O governo, contudo, terá de trabalhar para trazer progressos contínuos, sob o risco de ver a confiança depositada desmoronar com o tempo.

Temer assume a Presidência após o afastamento de Dilma Rousseff (PT) do cargo por até 180 dias. Para o economista Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada no Ibre/FGV, o governo que começa tem maior habilidade de negociação política e apoio no Congresso. Isso deve atenuar conflitos e ajudar na hora de aprovar medidas necessárias para recolocar o País em trajetória de crescimento.

Presidente em exercício Michel Temer ao lado de José Serra e Henrique Meirelles Foto: ANDRE DUSEK| ESTADAO

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“O fiscal é o mais importante, todo mundo reconhece isso. É difícil, mas é onde as expectativas estão mais colocadas. Eu entendo que há espaço para se avançar com a reforma da Previdência, que é muito importante em termos de dinâmica de longo prazo da dívida pública. É um tema que já vinha sendo defendido pela equipe que sai”, avaliou Castelar.

“Não fazer o mínimo que o País precisa para resolver a questão fiscal é suicídio. A crise não vai se resolver só com a troca do nome”, acrescentou Castelar. “O governo não vai eliminar o déficit público neste ano nem no próximo, mas precisa mostrar que está reduzindo.”

O economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Marcio Camargo, afirmou que a reforma do Orçamento também deveria ser prioridade no governo Temer. O especialista defende um orçamento impositivo, em que o Congresso determine como os recursos arrecadados pelo governo federal serão gastos. Hoje, segundo ele, a prerrogativa do Executivo de gerenciar a execução das despesas estimula a criação de vinculações, engessando o orçamento.

A necessidade de apoio no Congresso para realizar tais mudanças não será problema, avaliam os economistas, uma vez que as votações sobre o impeachment no Congresso já sinalizaram que Temer terá esse respaldo. Camargo ressaltou, porém, que qualquer reforma deve preservar programas de transferência de renda como o Bolsa Família. Além disso, a nova equipe deve evitar ao máximo elevar impostos. “Acho que é possível, se fizer ajustes do lado das despesas”, disse o economista da Opus.

Trabalho sujo. Para o economista Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), a presidente afastada já havia feito o “trabalho sujo” para ajustar a economia, como dar fim ao represamento nas tarifas administradas e no câmbio. Por isso, o cenário já estava mais favorável para qualquer governo que fosse adiante.

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Embora Temer tenha maior apoio político, Miragaya ponderou que ele contará com menor tolerância de movimentos sociais que, por sua vez, podem pressionar o Congresso e fragilizar a base. “Não é um governo eleito, é um governo que carece de legitimidade”, disse. “Um governo Temer pode ser positivo caso consiga manter a base articulada mas, se não conseguir, vamos ter uma crise acentuada.”

Castelar ainda destacou que será preciso progresso contínuo e redução de incertezas. “É da capacidade de manter expectativas melhorando que vai depender o sucesso do governo”.