"A montanha vai parir um rato. É um rato vestido de leão, para parecer grande, mas se a gente espremer é um rato." É assim que o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega classifica o Plano de Aceleração de Crescimento (PAC), que, na sua opinião, deveria chamar-se "PCC, Plano Contra o Crescimento". Ele não está sozinho nessa avaliação. Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, o PAC será um "remendo" que não turbinará o crescimento da economia para além de 3,5%. "O impacto do PAC sobre o crescimento tende a ser irrelevante", observa o economista Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Investimentos e ex-diretor do Banco Central. "O PAC é produto de um governo refém da idéia de que o desenvolvimento tem de ser liderado pelo Estado, à base de incentivos fiscais", ataca Mailson. "É uma coisa antiga, que passa ao largo das verdadeiras causas do baixo crescimento." A principal causa do baixo crescimento, acredita Figueiredo, é a elevada carga tributária. "É isso que sufoca as empresas", diz. O PAC corta parcialmente os impostos, mas só sobre alguns setores. O problema são as outras decisões de governo. Mailson calcula que, se o governo quer mesmo cortar os tributos sobre o investimento, dar aumentos generosos para o salário mínimo e garantir a preservação da renda dos funcionários públicos, só há duas saídas: reduzir o superávit primário (economia para pagar a dívida pública) ou comprimir os investimentos. "Em alguns aspectos, o PAC pode piorar o crescimento." Gonçalves acha que o PAC pode até ter um efeito de animar um conjunto de setores. "Mas vai haver uma análise muito detalhada sobre sua viabilidade", observa. A tendência de o PAC reduzir o superávit primário, acredita ele, seria problemática se a economia mundial não estivesse tão bem. "Mostra que o governo vai reduzir a dívida mais lentamente." Bolha Está em curso um processo que, na avaliação de Mailson, terá o efeito positivo de "meia dúzia" de PACs. "O Brasil está no limiar de uma expansão sem precedentes do crédito imobiliário", alerta. "Minha percepção é que investidores estrangeiros estão numa corrida para ver quem chega primeiro." Uma combinação de fatores criou um ambiente favorável: enorme demanda reprimida, percepção pelo investidor de uma estrutura macroeconômica estável, juros em queda, ampliação dos prazos de financiamento, etc. Isso pode gerar uma "bolha" imobiliária no Brasil, afirma Mailson.