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Para estimular o etanol, crédito para o açúcar vai acabar

Decisão, comunicada pelo ministro de Minas e Energia, reflete preocupação do governo com o abastecimento de combustível

Por Christiane Samarco e BRASÍLIA
Atualização:

A produção de açúcar não terá um único centavo de investimento público. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou ao "Estado" que o crédito oficial para o açúcar vai acabar, como parte da política de incentivo à produção de etanol. "Não somos contra o açúcar, mas somos mais a favor do etanol neste momento", disse o ministro. "É uma questão estratégica de atender ao interesse nacional de produzir etanol, para que não haja desabastecimento e os preços não se elevem", acrescentou. A decisão reflete a preocupação do governo de não permitir que se repita em 2012 o cenário do início deste ano, em que a escassez do produto pressionou o valor dos combustíveis, colaborando para acelerar os índices de preços, o que forçou o Banco Central a elevar os juros. O ministro afirma que não chegou a haver desabastecimento, "nem haverá", mas admite que os preços subiram muito, com repercussão na inflação. O governo também vai abrir uma linha de crédito no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para atender os produtores de etanol "na medida exata da necessidade desses produtores". Não haverá limite de recursos pré-fixado para garantir o aumento da produção do etanol. Outra medida do governo será a formação de um estoque regulador de 30 dias. O governo acredita que um mês é prazo suficiente para manter a demanda sob controle. Os distribuidores é que têm de estocar, mas hoje eles só têm capacidade para armazenar por cinco dias, enquanto a capacidade de estocagem da Petrobrás é de 15 dias. Hoje, só os produtores é que têm condições de estocar por seis meses o etanol. Diante disso, a solução do governo para contornar o problema da falta de estrutura física dos distribuidores é precisamente o uso da estrutura dos produtores. Custo. Como tudo tem custo, uma segunda linha de crédito será aberta para que o BNDES também financie os distribuidores na compra do produto já com o compromisso de estocagem por um mês. Os produtores, por sua vez, também terão financiamento garantido para a renovação do canavial, desde que seja com o compromisso de produzir etanol, e não açúcar. Na verdade, a primeira providência do governo foi determinar à Petrobrás que elevasse de 5% para 12% sua participação na produção de etanol brasileira, o que vai começar com a organização de novas destilarias. Mas essa é uma medida para médio prazo, já que a estatal vai precisar de cerca de dois anos, na avaliação do Ministério de Minas e Energia, para comprar áreas, fazendas, equipamentos, plantar cana e começar a produzir. Este ano, a estatal deve escolher os locais de plantio. "Recursos não faltarão e a Petrobrás tem a instrução de promover a elevação de sua participação na produção do etanol com toda a urgência", afirmou Lobão. No auge da crise de preços do álcool, no início do ano, o governo cogitou taxar as exportações de açúcar para forçar um aumento na produção de etanol. A medida foi abortada depois que se percebeu que seria um "tiro no pé", pois o Brasil corria o risco de perder participação no mercado internacional de açúcar, sem a garantia de que a produção de etanol seria aumentada.

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