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Para evitar apagão no SE, outras regiões ficam sem energia de reserva

ONS usa sobra equivalente a 5% da eletricidade total consumida no País para garantir a entrega no momento há aumento de consumo

Foto do author André Borges
Por André Borges e Anne Warth
Atualização:

BRASÍLIA - O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)tem enviado a maior parte da "energia de reserva" de que o setor elétrico dispõe para as Regiões Sudeste e Centro-Oeste do País. O objetivo é garantir o suprimento no horário de pico dos maiores centros de consumo e evitar riscos de apagão, como o ocorrido no dia 19 de janeiro, quando 11 Estados e o Distrito Federal ficaram sem energia. Por outro lado, regiões como o Sul, que hoje tem exportado grande parte da energia consumida no restante do País, têm atravessado os dias com índices bem inferiores ao volume recomendado. Conhecida no setor como "reserva girante", essa parcela de energia corresponde a uma sobra equivalente a 5% da eletricidade total consumida no País. Na prática, essa potência fica à disposição do ONS, que pode convocar as usinas para a entrega imediata da energia no momento em que perceber um aumento no consumo.

Volume. Seca esvaziou reservatórios, como o de Furnas Foto: JF Diório/Estadão

No dia do apagão de janeiro, segundo indicam os dados do operador do sistema, a energia de reserva que estava disponível não deu conta do recado.

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Para garantir o abastecimento nacional, o ONS programa diariamente uma reserva total de 2.559 megawatts (MW), potência que é dividida entre as diferentes regiões do País. Naquela data, porém, essa "gordura" limitava-se a 1.549 MW. A situação ficou muito complicada justamente no Sudeste e Centro-Oeste, que deveriam ter à disposição uma sobrecarga de 1.529 MW, mas tiveram de se virar com apenas 281 MW.

Desde então, o ONS apelou a vários expedientes para ampliar a capacidade de produção, entre eles a importação de energia da Argentina, o aumento da geração por térmicas da Petrobrás e, nesta semana, o acionamento da termelétrica de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Todas essas medidas têm como objetivo elevar a reserva na região Sudeste, principalmente.

O presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, afirma que a Região Sudeste requer mais reservas, justamente porque é a maior consumidora de energia do País. Além disso, é a região que mais sofre hoje com a queda drástica nos níveis de seus principais reservatórios, ao lado do Nordeste.

"Essa alternativa dá mais segurança para o abastecimento no Nordeste, que está mais próximo do Norte e pode receber energia de lá, caso haja um aumento na demanda local. O Sudeste, por estar mais distante, precisa de reservas locais", explicou Mello.

Saldo.

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Do apagão para cá, o ONS tem concentrado grande parte da sobrecarga disponível nas duas, tendo ficado com um saldo inferior ao recomendado em uma única ocasião. Na última segunda-feira, por exemplo, a reserva girante para o Sudeste e Centro-Oeste chegou a atingir 8.176 MW, superando em mais de cinco vezes o volume recomendado.

Os especialistas afirmam que, apesar da frustração na reserva de energia em outras regiões, o intercâmbio de energia pode atenuar os riscos e garantir o abastecimento. "A realidade é que não temos outra opção. Essa é a única estratégia possível", disse João Carlos Mello.

A melhora no volume de chuvas nos últimos dias e o feriado de carnaval tendem a aliviar a carga sobre o sistema elétrico. O operador, porém, deve se manter em alerta.

No dia do apagão, havia uma expectativa de queda no consumo, devido ao feriado prolongado no Rio de Janeiro. Essa redução, no entanto, não se confirmou e tem sido apontada por fontes do setor como uma das causas do blecaute. Ao subestimar o consumo, o ONS teria colocado diversas usinas em manutenção, o que reduziu a reserva disponível.

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