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Para FMI, Brasil tem ferramentas para lidar com 'efeito Trump'

Representante do Fundo considera que moeda brasileira foi uma das mais afetadas pela surpresa com a eleição do republicano e mantém expectativa para o crescimento da economia do País

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast) e correspondente
Atualização:

NOVA YORK - O governo brasileiro tem as ferramentas para lidar com o aumento da volatilidade no mercado financeiro causado pela surpresa com a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, disse um alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) em conversa com jornalistas nesta terça-feira, 15.

Economista do FMI destacou que, em termos comerciais, Brasilnão é muito exposto aos EUA Foto: Reuters

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Ainda é muito cedo para avaliar o que pode acontecer na maior economia do mundo com a vitória de Trump, ressaltou o funcionário. "Ainda não sabemos o conteúdo das políticas do novo governo. Temos algumas indicações, mas ainda muito vagas."

O primeiro impacto sentido pelos mercados emergentes com a eleição de Trump foi via moedas, e a do Brasil foi uma das mais afetadas, destaca o FMI. Além disso, em algumas economias, as curvas de juros subiram, sinalizando que os investidores preveem taxas mais altas no futuro. "Isso é um movimento típico de um choque externo de incerteza."

O porta-voz do FMI lembrou que em outros momentos de nervosismo no mercado internacional, como em 2013, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) primeiro sinalizou que mudaria a política monetária do país, o Brasil conseguiu, por meio da taxa de câmbio flexível e das reservas internacionais, lidar com o choque externo. Além disso, o BC usou o programa de swaps cambiais como outra ferramenta. "As autoridades brasileiras têm as ferramentas para lidar com a volatilidade que estamos vendo agora."

No geral, o Brasil não é muito exposto em termos comerciais aos Estados Unidos, ressaltou o economista do FMI. Mas é preciso ver primeiro quais serão as políticas de Donald Trump para avaliar eventuais impactos mais concretos no país. O FMI divulgou nesta terça-feira, 15, o relatório "Artigo IV" sobre o Brasil, mas o documento foi concluído em outubro, ou seja, antes do resultado das eleições dos Estados Unidos.

No relatório, o FMI ressalta que as reservas do Brasil, de acordo com algumas métricas, inclusive as do Fundo, estão acima do adequado, mas devem ser preservadas. As reservas e o regime de câmbio flexível são fontes de força para a economia brasileira. O Fundo também considera correta a estratégia do BC de ir reduzindo o estoque do programa de swap cambial. Sobre as ações do BC na semana passada para acalmar o mercado de câmbio, a avaliação do alto funcionário do FMI é que a estratégia foi adequada.

Fraqueza na economia. De acordo com o documento divulgado nesta terça-feira, o FMI prevê expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 0,5% em 2017, mesma estimativa divulgada em outubro, na reunião anual da instituição em Washington. Em 2018, a expectativa é de crescimento de 1,5%, subindo para 2% em 2019 e ficando nesse patamar nos períodos seguintes, até 2021. "Os diretores do Fundo esperam que a atividade comece a se recuperar gradualmente, mas permaneça fraca por um período prolongado", afirma o documento.

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Esse crescimento, ainda que modesto, vai depender da implementação do ajuste fiscal e de outras reformas econômicas, disse o porta-voz do Fundo. Pelo lado positivo, um avanço mais forte da agenda de medidas e reformas de Michel Temer pode ajudar a acelerar o PIB. "Nesse caso, a expansão pode ser mais rápida do que antecipamos."

Pelo lado negativo, o FMI alerta que riscos de piora do cenário pairam sobre o País. Um dos principais é uma nova piora da incerteza política, por causa do avanço das investigações da Operação Lava Jato, com delações envolvendo cada vez mais políticos em Brasília. Outro risco vem do exterior, o de desaceleração mais forte da China e de um período prolongado de baixa expansão da economia mundial.

O FMI ressalta que a aprovação na Câmara da proposta de emenda constitucional que estabelece um teto para o crescimento dos gastos, além de outras reformas sinalizadas pelo governo, são positivas e já ajudaram a melhorar a confiança dos investidores e consumidores, mas é preciso mais. Os diretores do Fundo recomendam uma reforma da previdência ampla, que inclua todos os servidores públicos. "Há um problema de sustentabilidade da previdência", disse o funcionário da instituição. O FMI fala ainda da possibilidade de o governo ter que aumentar impostos no futuro caso a arrecadação não melhore. Outra situação preocupante e que exige atenção do Planalto é a situação dos estados brasileiros, que estão muito endividados.

"Os resultados fiscais do Brasil têm sido decepcionantes", afirma o FMI. A instituição projeta que o País tenha este ano déficit primário de 2,7% do PIB, -2,3% em 2017 e só volte a ter superávit primário em 2020. Para o Banco Central, a recomendação do FMI é que a política monetária permaneça apertada até que "progressos tangíveis" ocorram no ajuste fiscal.

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A culpa pela forte recessão no Brasil em 2015 e 2016 foi basicamente de fatores internos, volta a afirmar o FMI. Uma combinação de algumas políticas equivocadas e forte incerteza política tiveram papel essencial para enfraquecer a atividade econômica, ressalta o relatório. A inflação acima do teto da meta por período prolongado ajudou a minar a credibilidade no Banco Central. "O BC precisa ser cauteloso", disse o funcionário do FMI ao falar do corte de juros, destacando que o crescimento da autonomia da instituição vai ajudar a reforçar a credibilidade dos agentes na autoridade monetária.

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