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Para FMI, fatores políticos podem prolongar crise global

Protecionismo, expresso no Brexit e na campanha eleitoral nos EUA, tende a dificultar o comércio e protelar o crescimento

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Por Rolf Kuntz
Atualização:

WASHINGTON - Fatores políticos, como o Brexit e a eleição americana, poderão prejudicar o comércio e atrasar a superação definitiva da crise econômica, advertiu o Fundo Monetário Internacional (FMI). Técnicos do Fundo costumam levar em conta variáveis como guerras e tensões geopolíticas, ao construir cenários econômicos. Recentemente, problemas vinculados à absorção de migrantes foram incluídos nas avaliações.

O baixo crescimento dos últimos anos tem desencadeado forças econômicas e políticas negativas, disse o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld. Essas forças, acrescentou, poderão perpetuar esse baixo ritmo de atividade.

Campanha presidencial nos EUA tem sido acompanhada de perto pelo FMI Foto: Brian Snyder/Reuters

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Ao apresentar a nova edição do Panorama da Economia Mundial, o economista chefe do Fundo apontou a principais forças negativas econômicas e políticas. O primeiro grupo inclui um “coquetel de legados interativos” – endividamento excessivo, calotes nas carteiras os bancos, pressões deflacionárias, baixo investimento e capital humano erodido. Esses fatores têm deprimido o potencial de crescimento, até porque consumidores e investidores ficam cautelosos quando a fraqueza econômica se prolonga.

No segundo grupo estão as consequências políticas, ainda em formação, do persistente baixo crescimento. A recuperação lenta e incompleta, argumentou Obstfeld, foi especialmente danosa naqueles países onde se agravou a concentração de renda: “O resultado em alguns dos países mais ricos foi um movimento político que atribui todos os problemas à globalização e busca proteger a economia contra as tendências globais, em vez de se envolver em cooperação com as outras nações.” O Brexit – abandono da União Europeia pelo Reino Unido – “é somente um exemplo dessa tendência”, acrescentou.

O caso americano foi comentado na entrevista. Discussões da campanha eleitoral, disse o economista-chefe, apontaram para mudanças dramáticas em relação à política de comércio tradicionalmente seguida nos Estados Unidos. Obstfeld absteve-se de citar nomes. O protecionismo é defendido mais abertamente pelo candidato republicano, Donald Trump, com promessas de revogação e de revisão de acordos internacionais.

A economia global, segundo o Panorama, deve crescer 3,1% em 2016 e 3,4% em 2017. As projeções para as economias avançadas indicam 1,6% e 1,8%. A estimativa para este ano é pouco menor que a divulgada em julho. Houve redução importante nas taxas previstas para os Estados Unidos – de 2,2% para 1,6% neste ano e de 2,5% para 2,2% no próximo.