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Para indústria e comércio, ritmo ainda é lento

Selic continua incompatível com o combate à crise e a busca do crescimento, diz empresário

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Por Redação
Atualização:

A redução de 1 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic) está no caminho certo, mas ainda segue em ritmo lento, avaliam representantes da indústria e do comércio, principalmente após o resultado negativo do Produto Interno Bruto (PIB) anunciado nesta semana. Empresários dos dois segmentos também defendem a redução do spread (diferença entre a taxa de juros cobrada pelos bancos e a que eles pagam para captar recursos) e mudanças no câmbio, para garantir melhor competitividade do produto brasileiro. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, considerou a redução "positiva e em sintonia com o ajuste rápido e intenso de que o Brasil necessita". Ressaltou, porém, que os sinais da economia continuam desfavoráveis. "O resultado do PIB no primeiro trimestre, apesar de melhor do que o esperado, mostra a extensão do forte impacto recessivo que o Brasil sofreu com a crise." Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, apesar de finalmente chegar a um dígito, a Selic continua incompatível com o enfrentamento da crise e a busca do crescimento econômico. "Precisamos ter consciência de que o Brasil ainda não venceu a crise internacional e, portanto, é decisivo diminuir o custo do dinheiro para os setores produtivos e o mercado consumidor." Skaf ressaltou que a expectativa de inflação está abaixo da meta, tanto para 2009 quanto 2010. "Ademais, entre janeiro e abril deste ano, a produção industrial foi 15% menor em relação ao mesmo período de 2008." O presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e vice-presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Alfried Karl Plöger, considerou insuficiente o corte de 1 ponto. Ele lembrou que o País segue na lista dos juros reais mais elevados e a queda do dólar em relação ao real coloca o produto brasileiro em desvantagem competitiva no cenário externo, num momento em que a economia precisa ser mais estimulada. O vice-presidente executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Ralph Lima Terra, disse que o BC deu uma contribuição ao principal desafio econômico do momento: incentivar o investimento para que a retomada do crescimento ocorra em bases mais sustentáveis e de longo prazo. Embora avaliem que o corte está no caminho certo, representantes do comércio canalizaram as críticas ao corte do spread bancário. "Há espaço para uma redução de pelo menos 25% no spread cobrado atualmente, bastante factível de se conseguir se houver empenho conjunto de bancos e governo", disse o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), Abram Szajman. Segundo ele, os juros ao consumidor final no primeiro trimestre estavam em média 30% para pessoa jurídica e 53% para pessoa física, e o spread corresponde a cerca de 70% dessas taxas. Para Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo, a decisão do Copom superou as expectativas do mercado e vai forçar a redução das taxas de juros para todos os segmentos da economia. "É preciso, agora, que o governo e o sistema financeiro estudem formas de reduzir os spreads bancários no País. O presidente da Federação do Comércio do Rio, Orlando Diniz, observou que redução da Selic fortalece a luta do empresariado pela redução do custo do crédito. No entanto, ele ressaltou que os juros médios para capital de giro dos cinco maiores bancos do País, no fim de maio, era de cerca de 29% ao ano, três vezes mais do que a taxa básica anual. SURPRESA A redução da taxa Selic em 1 ponto porcentual "surpreendeu positivamente" economistas e analistas. A maioria projetava corte de 0,75 ponto. Para o economista Roberto Luis Troster, o Copom deve ter sido influenciado pelos números da inflação medida pelo IPCA. "Até terça-feira eu achava que o BC cortaria a taxa em 1%. Com a divulgação do PIB do primeiro trimestre (de queda de 0,8%), que veio mais forte do que o esperado, achei que o BC iria por o pé no freio e cortar apenas 0,75%. Por isso acho que o IPCA deve ter influenciado." O professor de Economia da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo considerou o corte "ousado". "O corte de 1 ponto é um sinal interessante para o câmbio. Como foi acima da expectativa do mercado, deve aliviar a pressão de valorização do real." O economista-chefe do HSBC, André Loes, acredita que a decisão do Copom provocará um forte ajuste no mercado futuro de juros na sexta-feira. "Os operadores apostavam majoritariamente em um corte de 0,75 ponto, embora, entre os economistas, houvesse divisão entre 0,75 e 1 ponto." CLEIDE SILVA, MARCELO REHDER, MARIANA BARBOSA, LEANDRO MODÉ e SANDRA MANFRINI

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