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Para Meirelles, crise nos mercados é teste para BCs

Presidente do Banco Central brasileiro vê diferenças em relação a medidas adotadas em turbulências anteriores

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Por Redação
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Os bancos centrais de todo o mundo vivem, neste momento de turbulência internacional, um período de testes para as suas atuações, em meio a um sistema financeiro globalizado, com desenvolvimento tecnológico e abertura de mercados. A avaliação foi feita na noite de quarta-feira pelo presidente do Banco Central do Brasil (BC), Henrique Meirelles, durante a abertura do 3º Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro, realizado em Campos de Jordão (SP) pela Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), até sábado. ''''Evidentemente, agora estamos em meio a um processo de teste dessa nova estrutura, e as variações de humor do mercado refletem mudanças de expectativas'''', afirmou Meirelles. Ele disse que as crises mais recentes vêm sendo marcadas pelo que chamou de colapsos eventualmente regionais ou eventualmente pontuais de alguns segmentos. No caso de um problema com o crédito, ele explicou que, à medida que havia mudança forte nos preços dos ativos, canais específicos passavam a ter sua estrutura de trabalho interrompida e, em decorrência disso, conseqüências econômicas importantes. ''''Com a desintermediação nos mercados e a securitização, criou-se a expectativa de que haveria a diversificação de risco, por um lado, e, por outro, a alavancagem de crédito sem concentração excessiva das instituições financeiras'''', considerou, acrescentando que, ao mesmo tempo, o mercado de derivativos agiria, mitigando o risco e, em tese, tornando a estrutura mais equilibrada. Meirelles citou a crise de 1998, reforçando que o episódio que levou à quebra do Long Term Capital Management foi um alerta a todos os agentes do mercado. ''''A falência de um grande fundo trouxe a informação de que instituições financeiras fortes tinham concentração excessiva de crédito.'''' Ele continuou explicando que os BCs e os reguladores em geral tomaram as suas providências enquanto as instituições financeiras fizeram suas avaliações. ''''Não há dúvida de que temos uma nova estrutura, que deve ser solidificada.'''' PAÍS MAIS RESISTENTE Em relação ao impacto da turbulência nos mercados financeiros globais no Brasil, o presidente do BC voltou a dizer que o País é um dos pontos de estabilidade e todos concordam que há uma melhora da percepção macroeconômica brasileira. Ele citou a trajetória de desinflação, o desempenho da balança de pagamentos e a manutenção do superávit primário. ''''Tudo isso reforçou a resistência do Brasil a choques.'''' Além disso, Meirelles afirmou que diversos fatores vêm contribuindo para o crescimento da economia: a expansão da renda real, a recuperação dos investimentos, o aumento do mercado de crédito e a ''''significativa flexibilização da política monetária implantada desde setembro de 2005''''. Naquela época, a taxa básica de juros, a Selic, que estava em 19,75% ao ano passou para 19,50% e só vem diminuindo. Esse conjunto de fatores, diz, sugere que a demanda doméstica deverá permanecer um elemento propulsor do crescimento nos próximos trimestres. ''''O crescimento da economia brasileira deve mostrar resistência em face de uma desaceleração da economia global.'''' Meirelles ponderou, no entanto, que, estando inserido em um contexto econômico internacional, o Brasil não está totalmente imune ao que se passa com seus parceiros externos. Ele reafirmou que a economia brasileira está mais sólida e lembrou que, no segundo semestre de 2002, quando ficou mais claro que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva ganharia a eleição, houve uma disparada da cotação do dólar, que atingiu R$ 4. ''''Desde agosto de 2002, foram longos, longos anos, mas acho que valeu a pena. Estamos no caminho certo'''', afirmou.

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