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Para Petrobras, reunião sobre petróleo foi simbólica

Não houve consenso sobre as causas da alta dos preços e menos ainda sobre como dar uma solução rápida para o problema

Por Agências internacionais
Atualização:

Reunidos em Jeddah, às margens do Mar Vermelho, grandes produtores de petróleo, principais nações consumidores e grandes petroleiras chegaram a um consenso: o preço do petróleo está alto demais. No entanto, não houve consenso sobre as causas da alta dos preços e menos ainda sobre como dar uma solução rápida para o problema. Para o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, o valor simbólico da reunião foi o principal destaque do encontro. O executivo integrou a missão brasileira que viajou à Arábia Saudita, chefiada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Veja também: Preço do petróleo em alta Veja a história e os números da Petrobras A exploração de petróleo no Brasil A maior jazida de petróleo do País Em nota distribuída ontem pela Petrobrás, Gabrielli fez questão de destacar a situação privilegiada do Brasil em relação à auto-suficiência no abastecimento energético, graças, em parte, às recentes descobertas de petróleo leve na chamada camada de pré-sal. "O Brasil tem perspectivas favoráveis, tanto no que diz respeito ao aumento de petróleo, com as recentes descobertas da Petrobrás, como na produção de biocombustíveis", afirmou Gabrielli, que preferiu se referir às nove horas de reunião de forma conceitual. Em suas declarações, não há uma definição clara sobre as propostas de aumento de produção como meio de reduzir preços. "O encontro foi importante porque reuniu, pela primeira vez, grandes empresas produtoras, países produtores e exportadores (reunidos na Opep) e grandes consumidores, como Japão, Índia, China. A discussão sobre preços, demanda e oferta é extremamente complexa. O problema envolve múltiplos fatores. E esse conjunto o afeta de forma diferenciada", avaliou. Gabrielli observou, ainda, que "alguns agentes chamam atenção para o problema da demanda, que cresce principalmente em países não desenvolvidos, o que é bastante positivo. Outros agentes, entretanto, levantam problemas relativos à oferta do produto, tanto na área de refino como na produção". Durante o encontro em Jeddah, também foram debatidas questões como preservação do meio ambiente e energias alternativas. O ministro de Minas e Energia, ao fazer a Declaração do Brasil, defendeu a tradição brasileira de produção de biocombustíveis. Por causa dos recentes embates internacionais - o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, chegou a pedir a suspensão da produção de biocombustíveis, apontado como uma das causas da forte alta nos preços dos alimentos -, Lobão centrou seu discurso na defesa de que essa indústria não afeta a produção de alimentos. Lobão procurou mostrar que o Brasil dispõe de áreas suficientes para os dois. US$ 20 em dois meses Há dois meses, durante um encontro em Roma, os grandes produtores de petróleo e os grandes países consumidores não chegaram a um consenso público de que os preços estariam altos demais. De lá pra cá, um aumento de US$ 20 no barril fez com que os dois lados concordassem. Foram muitas as explicações apresentadas durante o encontro em Jeddah para a alta dos preços. Os países membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) culpam as especulações do mercado financeiro e defendem o controle sobre os fundos de investimento. Eles acreditam que o grande aumento do fluxo de investimentos para o setor é que tem fomentado a alta do petróleo e das commodities. Já o secretário de Energia dos Estados Unidos, Sam Bodman, discorda. "Não há nenhuma evidência de que é a especulação financeira que está elevando os preços futuros." Países consumidores da Ásia, incluindo a China, segundo maior consumidor de petróleo, já começaram a reduzir os subsídios para aumentar os preços no mercado doméstico, numa tentativa de conter a demanda no longo prazo. O preço do petróleo dobrou no último ano e atingiu a marca de US$ 140 o barril na semana passada. A escalada de preços tem alimentando a alta da inflação em todo o mundo, causando protestos da Ásia à Europa. Bancos centrais de diversas nações já começam a falar em aumento de taxa de juro para conter a alta do petróleo e dos alimentos. A anfitriã Arábia Saudita se comprometeu a extrair mais petróleo como resposta a uma demanda dos países consumidores, mas disse que seu esforço isolado não será suficiente para acalmar o mercado. O país assumiu o compromisso de aumentar sua produção para 9,7 milhões de barris por dia a partir de julho - seu maior nível em décadas - e disse que poderá aumentá-la ainda mais. Entretanto, o ministro do Petróleo saudita disse que a medida não deverá ter nenhum impacto nos preços. "Estou convencido de que a oferta e a demanda de petróleo estão equilibradas e que o nível de produção não é a principal causa da alta dos preços. Os mercados estão bem abastecidos", afirmou Ali al-Naimi. O comunicado divulgado ao final do encontro enfatizou a necessidade de se aumentar a transparência no mercado de petróleo e de mais investimentos em produção. "O encontro foi um pouco frustrante", disse um diplomata europeu. "O único produtor que apareceu com propostas concretas foi a Arábia Saudita - todos os demais deram declarações vazias sobre planos de aumento de capacidade." "Há muito boas idéias, mas nada que vá afetar o preço do petróleo na segunda-feira", disse o presidente da anglo-holandesa Shell, Jeroen van der Veer. Um novo encontro para tratar da questão será realizado em Londres até o fim do ano. O rei saudita Abdullah conclamou os presentes a fazer parte de uma iniciativa de "energia para os pobres". Ele prometeu US$ 500 milhões em empréstimos para os países pobres e convocou os países da Opep a contribuir para um fundo de US$ 1 bilhão para ajudar esses países a lidar com o impacto do petróleo.

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