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Para piorar, país vive um escândalo após o outro

Por Daniela Milanese
Atualização:

O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, parece viver um inferno astral ininterrupto. Não bastasse a grave recessão, com desemprego crescente e a nacionalização de vários bancos, o país mergulhou esta semana em uma crise política em pleno ano pré-eleitoral. Agora, o mais novo golpe sobre o governo trabalhista veio com o risco de perder o rating de crédito máximo AAA, diante da explosão da dívida pública, após os esforços para estimular a economia. Os últimos acontecimentos no país enfureceram a opinião pública. Já muito descontente com os bilhões de libras gastos para impedir a quebra dos bancos, a população acompanha, chocada, à onda de escândalos no Parlamento. Os escândalos já derrubaram o subsecretário de Estado da Justiça, Shahid Malik, e o presidente da Câmara dos Comuns, o trabalhista Michael Martin, que renunciou ao cargo esta semana, algo que não ocorria desde 1695. O líder da oposição, David Cameron, chegou a pedir a convocação de eleições. "Todos os dias, quando saímos de casa para trabalhar, nos perguntamos o que mais vai acontecer", disse o ministro de Negócios britânico, Peter Mandelson, na quarta-feira à noite, sobre as dificuldades enfrentadas pelo país. Na manhã seguinte ao comentário de Mandelson, o Reino Unido se deparou com o alerta da Standard & Poor''s sobre a possibilidade de perder a classificação de risco AAA, algo que já aconteceu neste ano com a Espanha e a Irlanda. A agência rebaixou a perspectiva da nota britânica para negativa pela primeira vez desde o início da classificação, em 1978. Segundo a S&P, a dívida do país deve chegar a 100% do PIB no médio prazo. Analistas acreditam que a piora das finanças públicas é inevitável, em razão das medidas tomadas para evitar uma recessão ainda mais profunda - no primeiro trimestre, o PIB encolheu 1,9% e acumula queda de 4,1% em 12 meses. Para evitar o rebaixamento, o governo terá de apertar o cinto em algum momento, segundo economistas. Conforme o banco ING, isso ocorrerá já no próximo Orçamento, mesmo em ano de eleições. "Devemos ver um aumento significativo nos impostos e cortes agressivos de gastos", diz o banco. Na avaliação do Standard Chartered, as mudanças virão no governo seguinte. Mas os especialistas acreditam que é possível evitar o rebaixamento do rating. Até porque, diferentemente dos países do euro, o Reino Unido tem independência para imprimir dinheiro e pagar dívidas, o que torna nula a chance de default, afirma Peter Dixon, do Commerzbank.

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