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Para que serve a pólvora?

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

Na história da humanidade, uma coisa é o que se pretende; outra, o que acontece. Durante séculos, a pólvora serviu apenas para enfeitar as noites chinesas com fogos de artifício, mas um dia mudou o curso da guerra. Colombo queria apenas encontrar um novo caminho para as Índias, mas descobriu a América. Os bandeirantes procuravam ouro e prata, mas alargaram as fronteiras do Brasil. Há duas conclusões a tirar depois de um ano de crise, avisa o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. A primeira: nada mais será como antes. A segunda: pouco vai mudar. Esmiuçando mais, o tempo dirá em que praias essa crise vai ancorar o barco da economia e o que terá mudado para sempre. Mas já dá para puxar certas conclusões - digam-se provisórias. (1) Diferentemente de outras crises do passado, em que o principal detonador foi a inflação, esta é (ou foi) uma crise bancária cuja principal consequência é a queda dos preços. Não apareceu ainda o que vinha sendo denunciado pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel. O principal risco destes tempos não é a inflação, mas a deflação. (2) Tanta gente avisou que esta seria uma nova Grande Depressão. E, no entanto, um ano depois, o pior já passou e a atividade econômica está sendo retomada. Há, sim, desemprego. Mas nem de longe é a devastação de postos de trabalho que se viu nos anos 30. (3) Esqueçam tudo o que foi dito sobre o fim do sistema neocapitalista tal como hoje é conhecido. Ficou tudo aí, com alguma tintura nova. É preciso que tudo piore demais para começar a melhorar. (4) Nunca nas crises anteriores a intervenção do Estado foi tão longe e tão forte. Os primeiros balanços dão conta de que o despejo de recursos monetários (pelos bancos centrais) e fiscais (pelos tesouros) tem a magnitude de algo entre US$ 10 trilhões e US$ 12 trilhões. E, no entanto, o maior responsável por tudo o que aconteceu foi o Estado, que deixou tudo solto. (5) Ainda está para ser mais bem entendido o novo papel dos emergentes no sistema global. Mas parece irreversível que as economias da China, Índia, Brasil e sabe-se lá quantas outras mais saíram reforçadas. (6) Esta foi uma forte crise financeira. Os bancos provavelmente não farão mais as mesmas lambanças. Mas farão outras, porque todas as condições para isso continuam presentes. Como nenhum banco com potencial de produzir crise sistêmica (quebra em cadeia) pode quebrar, mais cedo ou mais tarde seus dirigentes serão irresponsáveis. O Estado garante. (7) A tal reforma financeira global, tão alardeada nas reuniões de cúpula, não passará de mudanças cosméticas. E ninguém pense que, depois de tudo o que aconteceu, haverá rédea curta, fiscalização e supervisão. Para início de conversa, os Estados Unidos vetam peremptoriamente qualquer tentativa de criar xerifes globais para controlar instituições financeiras que tenham atuação global. (8) Apesar das apostas em contrário, ainda está longe o fim da hegemonia do dólar. A mais poderosa moeda do mundo apenas saiu chamuscada. E não apareceu nenhuma outra para ameaçá-la. Falta saber quanto de tudo isso mudará o curso da atividade econômica e quanto disso será apenas fogo de vista. Confira PT e PMDB não se unem apenas para defender José Sarney no Senado. Querem a volta da CPMF com alíquota de 0,1% "para financiar a saúde". É uma história velha de guerra. A CPMF começou em 1993 (como IPMF, Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira) para arrecadar fundos para a saúde, com alíquota de 0,25%. Quando foi derrubada, a alíquota era de 0,38% e arrecadava R$ 40 bilhões por ano. Afora isso, este é um imposto proibido pela Constituição, porque é cumulativo (cobrado em cascata) sobre todas as etapas da produção. Mas eles querem porque querem.

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