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Para um argentino, corralito é brincadeira.

Por Agencia Estado
Atualização:

Enquanto milhões de argentinos atingidos pelo "corralito" (semi-congelamento de depósitos bancários) protestam e choram diariamente contra o confisco criado há seis meses pelo ex-ministro da Economia, Domingo Cavallo, um habitante deste país decidiu divertir-se com o mesmo fato. O argentino em questão é Guillermo Montes, que antes do "corralito" estava se organizando para produzir uma peça de teatro junto com um amigo. A obra, de William Shakespeare, era "Sonho de uma noite de verão". Mas Cavallo acabou com o sonho shakespereano. O dinheiro ficou preso, e seu sócio, emigrou para a Espanha. Desempregado, Montes, de 24 anos, começou a aproveitar seu tempo livre para jogar sem parar todos os jogos de mesa que possuía em casa e na casa dos amigos. Em poucas semanas, transformou-se em um expert do assunto, dominando a arte dos tabuleiros, dos dados, das fichas e dos regulamentos complexos. Com esta overdose de jogos como "Monopólio" e "Banco Imobiliário", Montes começou a pensar como poderia fazer um jogo que refletisse a realidade do país. Desta forma, surgiu a idéia de transformar o pesadelo diário do "corralito" em um jogo, "El Corralito". Seu objetivo comum: apesar do confisco bancário, chegar vivo até o fim do ano. O objetivo secundário: conseguir sobreviver ao inverno. O objetivo principal: chegar até o fim do ano, com dinheiro para as festas de Natal. Os obstáculos para o jogador: o confisco de depósitos, a desvalorização da moeda (que entre janeiro e junho passou de US$ 1,00 para 1,00 peso para US$ 1,00 para 3,65 pesos), os fiscais da DGI (a Receita Federal argentina), além de outros percalços financeiros, sociais e econômicos. Mas, para fazer esse trajeto até o fim do ano, o bravo jogador só pode contar com 5.000 pesos. O jogo é duro, já que os problemas ao longo do tabuleiro abundam, mas as vantagens são escassas. As poucas que existem, implicam em vencer o Estado e os Bancos - inimigos mortais do jogador - tais como escapar do "corralito" porque é amigo ou parente de um político, ou ainda porque conseguiu, através de um processo na Justiça, reaver seus depósitos confiscados. "El Corralito" está sendo comercializado pela empresa "Los juegos de Lito", e lançou na semana passada sua primeira fornada, de 5.000 unidades, cada uma ao preço de 29,90 pesos (US$ 8,19). A indústria argentina dos jogos de mesa descobriu que a própria realidade, dura e crua, pode ser uma ferramenta para sobreviver, sempre que tiver grandes doses de humor negro, algo em que os argentinos são especialistas. No ano passado, um empresário do setor em Buenos Aires, lançou "La Deuda Eterna" ("A Dívida Eterna", uma alusão à cada vez maior dívida externa do país. Mas no jogo, ao contrário da vida real, um argentino pode vencer o FMI e os credores internacionais.

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