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Parceiro da Belo Sun em projeto de refino de ouro, governo do Pará silencia sobre irregularidades

Mineradora canadense negociou a compra de 21 lotes de assentamento onde deve ser instalado projeto de exploração de ouro; Estado só informou que a licença de instalação do empreendimento está suspensa por decisão judicial

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - O governo do Pará evitou fazer qualquer tipo de comentário sobre as irregularidades que a mineradora canadense Belo Sun cometeu na Volta Grande do Xingu, ao negociar a compra de 21 lotes com assentados da reforma agrária. As terras não tinham título definitivo, mas foram objeto de contratos firmados pela empresa, que pretende expandir a área de extração de ouro que pretende explorar.

O Estadão questionou o governo sobre quais medidas a gestão de Helder Barbalho tomaria sobre o caso. A reportagem mencionou o fato de que o Incra, que será parceiro da Belo Sun no projeto do garimpo industrial, com participação nos lucros da empresa, também vai receber em troca uma fazenda em Mato Grosso, a 1.500 quilômetros do município de Senador José Porfírio (PA).

Área desmatada invadida por grileiros ilegais que esperavam lucrar com a chegada da Belo Sun; governo do Pará não quis comentar as irregularidades do negócio Foto: Andrew Christian Johnson

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Não houve nenhum comentário sobre esses apontamentos. A única informação encaminhada pelo governo do Pará foi a de que “a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) informa que a licença de instalação do referido empreendimento encontra-se suspensa desde 2017, por decisão judicial”.

O fato é que, da mesma forma que o Incra agora se junta à mineradora canadense para lucrar com o ouro que será retirado de um assentamento, o governo do Pará também se associou com a Belo Sun, em um projeto para construir uma refinaria de ouro no Estado.

Em fevereiro, durante evento realizado pelo governador Helder Barbalho, no Palácio dos Despachos, em Belém, foi assinado um “um protocolo de intenções” com seis empresas mineradoras. Na lista, além da Belo Sun, estão North Star Participações, Serabi Mineração, Brazauro Recursos Minerais, BRI Mineração e Gana Gold Mineração.

Helder Barbalho disse, na ocasião, que a ideia é implantar “a maior refinaria de ouro do País” dentro do Pará, com apoio dessas empresas. “Certamente, viramos a página de sermos apenas um Estado que extrai o ouro e exporta para o mercado internacional e estamos caminhando para o novo status com a instalação da maior refinaria de ouro do País. Sabemos que o Pará tem a maior produção de ouro da federação, estando entre os maiores do planeta, e esse passo estratégico contribuirá para que esse ativo mineral traga geração de emprego, renda e organização da cadeia econômica”, comentou.

O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Carlos Ledo, afirmou que o protocolo de intenções tem o objetivo de “estabelecer premissas entre o Poder Público e a iniciativa privada para criar condições favoráveis à execução de ações voltadas para a verticalização da produção mineral aurífera no território paraense, especialmente referente à construção de beneficiamento e refino de ouro”.

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A Belo Sun, que há uma década se mobiliza para explorar ouro no subsolo do Xingu, afirma que seu Projeto Volta Grande terá investimento total de R$ 1,22 bilhão. A empresa é controlada pela canadense Belo Sun Mining Corp., que tem ações listadas na Bolsa de Valores de Toronto.

Em suas contas, a produção média de ouro será de aproximadamente 5 toneladas do metal nobre por ano, considerando no mínimo 12 anos de vida útil, “com a possibilidade de se estender o prazo, devido ao potencial mineral da região”.

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