PARIS - O Parlamento da Grécia deve votar nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira o pacote de resgate de € 85 bilhões selado entre o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras e a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). O premiê deve mais uma vez contar com o apoio de deputados da oposição de partidos de centro e direita para aprovar o memorando, que prevê uma série de 35 reformas e medidas de austeridade até 2018. Ontem, o governo enviou ao Parlamento o texto do acordo de resgate. Mais uma vez o entendimento provocou racha na Coalizão Radical de Esquerda (Syriza), partido de Tsipras. Ainda assim, o primeiro-ministro demonstrou confiança na aprovação. “Apesar dos obstáculos que alguns querem colocar diante de nós, estou otimista de que vamos chegar a um acordo de empréstimo da parte do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que colocará um fim à incerteza econômica”, afirmou o premiê, ao final de uma reunião com ministros da área econômica.
Tsipras também fez novas críticas indiretas a governos europeus que viram com ceticismo o acordo sobre o novo programa de resgate. “Alguns gostariam de usar a Grécia como pretexto para reordenar a zona do euro. Vamos provar que os que duvidam de nós estão errados e vamos reconstruir o país.” A aposta de vitória na votação no Parlamento, entretanto, pode custar caro a Tsipras. Em Atenas, cresce a probabilidade de um racha formal no Syriza, o que daria origem a um novo partido de esquerda radical, com 30 a 40 deputados - o suficiente para acabar com a maioria que o premiê tem no legislativo. Ontem, o deputado e ex-ministro Costas Isichos afirmou que a vitória no novo memorando no Parlamento pode levar a um “divórcio imediato”. “Nós estamos enfrentando desenvolvimentos políticos maiores, nos quais o front do ‘não’ pode tomar forma”, advertiu. Caso a base de sustentação de fato rache, Tsipras será obrigado a convocar novas eleições legislativas, o que poderia acontecer até setembro. Outro percalço no caminho do acordo é a necessidade de aprovação pelos parlamentos nacionais. Ontem o porta-voz do governo da Alemanha, Steffen Seibert, afirmou que ainda não há previsão de quando o o legislativo em Berlim poderá avaliar o acordo. Já em Paris, a análise só deve ter caráter simbólico.
Para lembrar. O plano de resgate firmado na terça-feira por Atenas, Bruxelas e Washington é o terceiro que a Grécia assinará desde 2010. Nos dois primeiros, o valor chegou a € 240 bilhões, mas não impediram o default de pagamentos ocorrido em 1.º de julho, o primeiro calote da história de um país desenvolvido em todo o mundo. Na terça-feira, negociadores europeus confirmaram que os credores internacionais - Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional - querem chegar a um acerto antes do dia 20. Para tanto, é preciso buscar a um consenso também sobre os termos do reescalonamento da dívida da Grécia, de cerca de € 320 bilhões e considerada insustentável por Atenas e também pelo FMI.