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Participação de bancos estrangeiros tem primeira queda em 8 anos

Por Agencia Estado
Atualização:

Pela primeira vez desde a estabilização da economia, a participação dos bancos de controle estrangeiro no total de ativos do sistema financeiro deverá registrar redução. A queda será pequena, mas representará a primeira interrupção do movimento de crescimento da parcela do capital estrangeiro nos ativos do setor, que foi acelerado especialmente a partir de 1996, quando a reestrutução do setor bancário foi favorecida pela a abertura do mercado ao capital externo. Segundo dados da ABM Consulting, essa participação deverá passar dos 29,9% em 2001 para 29,6% este ano. Em 1994, essa fatia dos estrangeiros era de apenas 7,16%. A redução neste ano pode indicar uma reversão de tendência no setor bancário, especialmente se considerado que os números não incluem as eventuais vendas do Sudameris e do banco Fiat para bancos domésticos, conforme especula parte do mercado, e também não detectam as vendas de instituições com grande parcela de capital externo para bancos locais, como a incorporação recente do BBA pelo Itaú. Maturidade Os dados que mostram o peso menor do capital externo não incluem as vendas das áreas de Asset Management de grandes bancos estrangeiros, como Deutsche Bank e Dresdner, para instituições brasileiras. "Depois de anos representando o maior crescimento de participação no setor bancário, os bancos estrangeiros chegam agora à fase da maturidade, na qual essa participação se estabiliza e se pode até pensar na saída de algumas instituições do País", disse o diretor da ABM, professor Alberto Borges Matias. "Ao mesmo tempo, os números mostram que o processo de consolidação da indústria nacional no setor é uma realidade." Como não houve aquisições de bancos de controle estrangeiro por bancos domésticos em 2001, o crescimento da participação do segundo grupo e a redução do primeiro deve-se sobretudo ao crescimento orgânico mais forte das instituições locais, afirmou o analista da ABM Alan Marinovic. Os dados da consultoria mostram uma estimativa de crescimento de 14% dos ativos totais dos bancos privados nacionais entre as 50 maiores instituições financeiras neste ano. Os estrangeiros devem crescer apenas 6%. Esse ritmo menos acelerado dos estrangeiros é consequência direta das incertezas relacionadas ao futuro da economia neste momento de transição política e do ambiente mundial de aversão ao risco. Depósitos em dólares Dados coletados pela consultoria Austin Asis mostram uma redução média de 13,7% da exposição em depósitos totais em dólares de 40 bancos estrangeiros com negócios no País, na comparação do segundo com o primeiro trimestre deste ano, uma queda de US$ 32,3 bilhões em março para US$ 27,8 bilhões em junho. Na exposição de crédito, a redução foi de 14,9% no mesmo período, de US$ 32 bilhões para US$ 27,3 bilhões. O único segmento em que a exposição cresceu no período foi a sobre títulos e valores mobiliários, que aumentou 5,2%, de US$ 27 bilhões para US$ 28,4 bilhões. Esse crescimento, segundo analistas, deve-se à busca de liquidez dos estrangeiros - embora ressalte-se, dos 15 maiores bancos de capital externo no País, 6 também reduziram a exposição nesse segmento. "Os estrangeiros ficaram numa encruzilhada. De um lado havia pressão dos bancos centrais lá fora para que não ficassem com uma exposição grande em títulos públicos, ao mesmo tempo em que havia grande preocupação das instituições em ficarem o mais líquidas possível", afirmou uma fonte da Associação Brasileira de Bancos Internacionais (ABBI). Os poucos dados referentes aos balanços do terceiro trimestre mostram que essa redução do grau de exposição cresceu. "Esse movimento de redução da exposição acentuou-se no terceiro trimestre, quando aumentaram os temores relacionado aos acontecimentos locais e externos", disse o analista de Instituições Financeiras da Standard & Poor´s, Daniel Araújo, lembrando que parte dessa redução da exposição ocorreu naturalmente na desvalorização do real Compras Na opinião dos analistas consultados pela Agência Estado o futuro que se desenha para o setor bancário doméstico é de redução do número de participantes locais e estrangeiros, aliado a um aumento dos volumes operados. Os grandes bancos nacionais, sobretudo Bradesco e Itaú, ainda demonstram interesse por novas compras. Os estrangeiros dividem-se basicamente em dois grupos: os que têm no País um alvo estratégico de negócios, caso por exemplo do Santander e do ABN Amro, e os que ainda não ganharam escala no mercado e que por isso devem optar pelo crescimento via aquisições, a atuação em algum mercado específico ou então a venda dos ativos para outra instituição. "Essa é uma opção que os participantes com menor exposição terão de tomar em algum momento", disse Daniel Araújo, da Standard & Poor´s. Com menor vínculo geográfico, os bancos que atuam exclusivamente no atacado têm maior facilidade em reduzir ou aumentar a exposição nos mercados em que atuam. Segundo fontes dos bancos estrangeiros, o momento é de extrema cautela, ou seja, de manutenção da exposição atual com algum ajuste pontual para cima ou para baixo. Em alguns casos, como uma análise mais positiva sobre as expectativas em torno da política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em outros, com uma tendência negativa.

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