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Partidos da base do governo racham e travam assinaturas pela CPI da Petrobras, cobrada por Bolsonaro

Segundo deputados, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, orientou parlamentares do PP a não assinar requerimento de abertura da CPI

Foto do author André Borges
Foto do author Julia Lindner
Por André Borges e Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA – O desejo do presidente Jair Bolsonaro de ver instalada a CPI da Petrobras, para apurar os reajustes de preço nos combustíveis, não conta sequer com a sua própria base aliada. O Estadão apurou que o PP, legenda comandada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que despacha dentro do Palácio Planalto, orientou seus parlamentares a não assinarem o requerimento que pede a instalação da CPI.

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A orientação para não assinar o documento, conforme relatado por deputados à reportagem, foi dada pelo próprio Ciro Nogueira. A reportagem questionou o ministro sobre o tema. Não houve manifestação até o fechamento deste texto.

A situação tem papel crucial na aprovação do requerimento, porque os votos do PP seriam suficientes para, neste momento, confirmar o pedido para instalação da CPI da Petrobras, como deseja Bolsonaro.

Sede da Petrobras; partidos da base do governo racham e travam assinaturas pela CPI da Petrobras Foto: Mauro Pimentel/AFP - 17/06/2022

Um total de 133 assinaturas foi coletado até agora. São necessárias, porém, 171 assinaturas para que o texto seja encaminhado à presidência da Câmara. Como o PP tem 53 parlamentares, a adesão do grupo já seria suficiente para ultrapassar o mínimo necessário. Ocorre que, até o momento, apenas o deputado Ricardo Barros (PP-PR), que é o líder do governo na Câmara, assinou o requerimento. Todos os demais não se apresentaram.

Ricardo Barros defendeu publicamente que a CPI vai sair do papel. "A CPI será instalada e dará transparência à composição dos preços dos combustíveis", afirmou ao Estadão.

A situação é de constrangimento dentro da base aliada do governo. O presidente da Câmara, Arthur Lira, é do PP por Alagoas, já afirmou que não é contrário à CPI e que, se receber o requerimento e houver fundamento, dará andamento à instalação.

Dentro dos quadros do PL, o sentimento é de traição. O partido de Bolsonaro tem 77 cadeiras na Câmara. Destas, 74 já assinaram o pedido para criação da CPI. Nesta quarta-feira, 22, em conversa com um parlamentar do PL, o presidente Bolsonaro chegou a cobrar a aprovação das investigações. Ontem, o presidente voltou a cobrar a CPI.

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“Eu estou acertando uma CPI na Petrobras. 'Ah, você que indicou o presidente'. Sim, mas quero a CPI. Por que não? Investiga o cara, pô. Se não der em nada, tudo bem. Agora, os preços da Petrobras são um abuso", afirmou Bolsonaro, durante conversa seus apoiadores na portaria do Palácio da Alvorada.

Nos bastidores do Congresso, ainda não está clara a real motivação sobre a resistência de Ciro Nogueira na criação da CPI. O que se afirma é que a legenda acredita que este não seria o momento adequado para isso, devido ao calendário eleitoral, e que haveria outras formas de responder à escalada nos preços de combustível praticados pela Petrobras.

A coleta de assinaturas é liderada pelo PL, que segue em contato com parlamentares para tentar atingir o número mínimo necessário. O governo, a princípio, acreditou que conseguiria aprovar o requerimento com alguma facilidade, devido ao tamanho de sua base, mas esta dá sinais claros de que não é bem assim.