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Guedes adia ida à CCJ e desagrada a parlamentares

Governo precisou atuar nos bastidores para evitar que ministro da Economia fosse convocado pelos representantes da oposição

Foto do author Eduardo Rodrigues
Foto do author Adriana Fernandes
Por Idiana Tomazelli , Eduardo Rodrigues e Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - Em mais um capítulo da crise na articulação do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, desistiu de última hora de comparecer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o que desagradou a parlamentares e pegou de surpresa o próprio presidente da comissão, Felipe Francischini. O governo precisou atuar nos bastidores para evitar uma convocação do ministro e conseguiu uma “segunda chance”, agora no dia 3 de abril.

Guedes enviou uma equipe técnica, representada pelo secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, que nem chegou a ser ouvido pelos parlamentares. Deputados mais alinhados ao governo reconheceram que o adiamento da ida de Guedes não era o cenário ideal, mas tentaram avançar com a audiência de Marinho, sem sucesso.

Paulo Guedes não compareceuà CCJ nesta terça-feira, como previsto anteriormente. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

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Oficialmente, Guedes justificou a ausência à não indicação do relator da proposta. Quando ele tinha confirmado a participação, na semana passada, havia a expectativa de que um relator fosse escolhido na ultima sexta-feira, o que não ocorreu.

A CCJ é a primeira parada da reforma da Previdência na Câmara. O ex-presidente Michel Temer levou apenas dez dias para aprovar a admissibilidade da proposta que ele enviou em dezembro de 2016. O governo Bolsonaro enviou o texto da reforma em 20 de fevereiro e até hoje não foi escolhido o relator.

O Estado apurou que a articulação política para adiar a presença do ministro começou na segunda-feira à noite, conduzida pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também aconselhou o ministro da Economia, Paulo Guedes, a não comparecer. Ele avisou Guedes que deputados de partidos do Centrão, como DEM, PP, PR, PRB, Solidariedade, haviam decidido faltar àquela sessão, que ficaria esvaziada.

O deputado argumentou que, diante desse cenário, Guedes seria alvo dos ataques da oposição, comandada pelo PT, e teria apenas o dividido PSL do presidente Jair Bolsonaro para defendê-lo. Na véspera da reunião da CCJ, o chefe do PR, Valdemar Costa Neto, chegou a telefonar para deputados do partido pedindo para que não parecessem na comissão.

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“Fui pego de surpresa, não havia comunicação prévia sobre a não vinda do ministro Guedes”, afirmou o presidente da CCJ, deputado Felipe Francischini (PSL-PR). “A presença de Guedes é importante aqui. Hoje, infelizmente, não sei por quais razões Guedes cancelou. Talvez por conta do ambiente político”, afirmou. Segundo ele, “pegou mal” a justificativa de Guedes para não ir à comissão. Francischini alertou que foi firmado um segundo acordo com Guedes e que a comissão já tem tido “muita paciência” com o governo.

“Não é o ministro da Economia que diz quando virá à CCJ, mas, sim, a Câmara dos Deputados”, criticou Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição. “Tempo para palestras a quem quer que seja, Guedes tem”.

A notícia de que Guedes havia desistido de comparecer à CCJ deixou os investidores agitados. A Bolsa, que vinha subindo, desacelerou assim que a informação foi divulgada pelo Broadcast. No caminho inverso, a cotação do dólar, que vinha caindo, passou a subir.

Ao longo da tarde, os ânimos se acalmaram e o Ibovespa, principal índice da B3, fechou com alta de 1,76%, com o auxílio da Petrobrás. O dólar, porém, manteve a valorização. Terminou o dia cotado a R$ 3,8675, alta de 0,29%. /COLABORARAM VERA ROSA E RENATA AGOSTINI

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