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Paulson abandona compra de ativo podre e foca no consumidor

Secretário do Tesouro detalha próxima fase de pacote de resgate e cita aumento de recursos para consumo

Por Ricardo Gozzi e da Agência Estado
Atualização:

O secretário americano do Tesouro, Henry Paulson, abandonou oficialmente seu plano original de comprar ativos podres de instituições financeiras. Segundo ele, o governo dos EUA continuará investindo nessas empresas, mas agora se concentrará nos consumidores em dificuldades do país. Veja também: De olho nos sintomas da crise econômica  Lições de 29 Como o mundo reage à crise  Dicionário da crise  Entenda a disparada do dólar e seus efeitos Ao detalhar a próxima fase do Programa de Alívio de Ativos Problemáticos de US$ 700 bilhões, também conhecido pelas iniciais em inglês Tarp, Paulson indicou que o governo continuará injetando dinheiro nas instituições financeiras, mas também tentará elevar a disponibilidade de recursos para financiamento de veículos, crédito estudantil e cartões de crédito. Ele afirmou ainda que está analisando meios de impedir execuções de hipotecas. O suporte do mercado para o financiamento ao consumidor "está atualmente em risco, os custos de financiamento dispararam e a atividade de novas concessões parou", declarou o secretário do Tesouro na quarta-feira. No mesmo dia, em Nova York, o índice Dow Jones caiu 411,3 pontos, fechando em 8.282,66 pontos, ou 4,7% de queda - um sinal de que alguns investidores também estavam preocupados com relação ao perigoso estado da economia. Contudo, os investidores atribuíram parte do declínio à decisão do Tesouro, uma vez que a ampliação do escopo de abrangência reforça a profundidade dos problemas da economia, assim como novas tensões sobre o programa de socorro do governo. "Isso significa mudar a regra no meio do jogo", opinou Art Hogan, estrategista-chefe da Jefferies & Co. "Isso está realmente confundindo o mercado", prosseguiu. A decisão de Paulson sinaliza uma nova, apesar de desastrada, segunda fase do plano de resgate anunciado apenas algumas semanas antes da posse de um novo governo nos EUA. Enquanto o secretário planeja novos programas, estes precisarão de semanas e centenas de bilhões de dólares para que possam ser implementados. Dos US$ 350 bilhões liberados até agora pelo governo, restam "somente" US$ 60 bilhões deixados em seu fundo Tarp. A expectativa é de que os congressistas americanos recebam com hostilidade qualquer eventual tentativa de acesso à segunda metade do pacote. Crédito O mercado de crédito ao consumidor está incrivelmente contraído em um momento no qual bancos e outras instituições financeiras praticamente não conseguem vender aqueles empréstimos a outros investidores. O mercado de venda de tais empréstimos - eles são empacotados, ou securitizados, na forma de bônus - teve apenas uma operação de US$ 500 milhões em todo o mês de outubro, de acordo com a Barclays Capital. Um ano atrás, o negócio alcançava o equivalente a US$ 50,7 bilhões, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Dealogic. O Tesouro americano está cada vez mais preocupado com o acesso do consumidor ao crédito, que foi colocado sob pressão em meio à recente crise financeira. O gasto do consumidor é um importante componente do crescimento econômico dos EUA, mas a torneira do crédito, seja para a compra de carros, imóveis ou vários outros bens, simplesmente secou. Paulson disse não saber quando irá ao Congresso pedir a liberação da segunda metade do Tarp. Ele sugeriu que agiria com cuidado antes de implementar novos programas nas semanas que antecedem a posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, prevista para a segunda quinzena de janeiro de 2009. Ele também sugeriu que o Tesouro poderia manter os US$ 60 bilhões restantes para emergências. No início da semana, o Tesouro viu-se obrigado a desembolsar US$ 40 bilhões para ajudar a estabilizar a seguradora American International Group (AIG). "Não há resposta fácil", disse Paulson na quarta-feira. Ele comentou que estava considerando a possibilidade de lançar um plano para conter execuções lançado pela Corporação Federal de Seguro de Depósitos (FDIC, pelas iniciais em inglês, mas comentou que isso seria problemático porque o Tesouro seria obrigado a gastar dinheiro ao invés de investir - o que, segundo Paulson, é uma exigência. Investimentos Com o foco agora redirecionado para os consumidores, Paulson disse que seu departamento e o Federal Reserve agora trabalham para desenvolver uma linha de empréstimo que encoraje os investidores a comprar ativos lastreados por cartões de crédito, empréstimos de automóveis e até mesmo hipotecas. Os detalhes ainda estão sendo trabalhados. De acordo com ele, o investimento na linha de crédito seria feito como parte do Tarp e a liquidez seria provida pelo Fed. Há diversos modelos possíveis para o novo programa, incluindo um programa de empréstimo de commercial papers criado pelo Federal Reserve no mês passado. O Fed também pode ajudar firmas privadas por meio de empréstimos em dinheiro para que possam comprar ativos, um modelo já usado para impulsionar a indústria de fundos mútuos do mercado monetário (dívida de curto prazo). Paulson disse que os empréstimos provavelmente serão "nonrecourse", significando que os investidores não terão de pagar de volta ao Fed se o tomador original do empréstimo não pagar.

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