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PEC dos Precatórios é 'pedalada', que já gerou impeachment, diz vice-presidente da Câmara

Para Marcelo Ramos, proposta em estudo pelo governo, que permite o parcelamento das dívidas dos precatórios, é um 'crime de responsabilidade' e uma tentativa de 'calote'

Por Anne Warth
Atualização:

BRASÍLIA - O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), disse nesta quarta-feira, 4, que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite o parcelamento dos precatórios em até dez anos é uma pedalada fiscal que pode ser enquadrado como crime de responsabilidade, ato que, no passado, ensejou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff

Ramos é o primeiro vice-presidente da Câmara e assume a Mesa Diretora na ausência do presidente Arthur Lira (Progressistas-AL). Após virar alvo do presidente Jair Bolsonaro, ele pediu acesso aos mais de 100 pedidos de impeachment protocolados na Casa e disse que fará uma análise desses documentos. No exercício da presidência da Câmara, Ramos pode, se desejar, abrir formalmente um processo de afastamento do presidente.

'O governo não pode impor parcelamento e fazer pedalada fiscal', disse Marcelo Ramos. Foto: Maryanna Oliveira/Agência Câmara

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"Assisti abismado o governo anunciar que vai encaminhar a esta Casa uma PEC para parcelar compulsoriamente precatórios. Rolar dívida de um ano para o outro para abrir espaço fiscal tem nome no Brasil, o nome disso é pedalada. Isso já gerou o impeachment de uma presidente da República, e agora o governo resolveu constitucionalizar a pedalada", afirmou, em discurso no plenário. "Isso é inadmissível, isso é pedalada, isso é crime de responsabilidade hoje. Isso é calote."

A proposta do governo é fixar duas regras de parcelamento das dívidas judiciais. Para débitos acima de R$ 66 milhões, a possibilidade de pagar em dez prestações anuais seria permanente. Para débitos de R$ 66 mil a R$ 66 milhões, valeria uma regra temporária (até 2029) que permitiria o parcelamento nas mesmas condições sempre que o gasto total com precatórios fique superior a 2,6% da receita corrente líquida.

Ainda sobre a PEC dos Precatórios, Ramos disse que o governo vai dar o calote nos professores, já que parte dessas dívidas se refere ao extinto Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) repassado aos Estados. Dos R$ 89 bilhões em dívidas judiciais, pelo menos R$ 16,6 bilhões têm governos estaduais como credores. 

Uma lei aprovada no Congresso estabeleceu que 60% desses precatórios devem ser obrigatoriamente destinados aos profissionais de educação. Segundo Ramos, dos R$ 219 milhões devidos ao Amazonas, R$ 131,4 milhões pertencem aos professores.

"É preciso chamar credores e fazer acordos, isso depende da concordância da outra parte", afirmou Ramos. "O governo não pode impor parcelamento e fazer pedalada fiscal, dar calote nos professores brasileiros."

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Ramos disse ainda que a PEC representa uma tentativa de romper o teto de gastos, regra que atrela a expansão das despesas à inflação, de forma disfarçada. "Isso é quebrar o compromisso de austeridade fiscal que firmamos no passado, fundamental para dar sustentação à economia."

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