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PEC do Teto prevê até congelar salários

Se limite de gastos for descumprido, salário mínimo pode ficar sem ganho real

Foto do author Eduardo Rodrigues
Foto do author Adriana Fernandes
Por Eduardo Rodrigues , Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - O novo texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que cria um teto para os gastos públicos, aumentou o rol de punições para os órgãos e poderes que estourarem os limites de seus orçamentos. Com as mudanças anunciadas, servidores públicos poderão ter os salários congelados e até o salário mínimo poderá ficar sem ganhos reais enquanto as contas do governo não se enquadrarem ao teto do Novo Regime Fiscal.

Também foi incluída no texto a criação de um mecanismo de Desvinculação das Receitas da União (DRU) de 30% da arrecadação com validade até 31 de dezembro de 2036. O artigo foi incluído pelo relator, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), sem que houvesse anúncio prévio da decisão, como ocorreu com outras mudanças. A equipe econômica avalia que a extensão da DRU dá maior flexibilidade à gestão orçamentária, mas não melhora o resultado primário, como no passado.

O relator, deputado Darcísio Perondi (E), defende limites para os gastos Foto: Dida Sampaio/Estadão

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A reunião da comissão especial que discute a PEC do Teto durou mais de quatro horas, mas a leitura do parecer só foi iniciada após 2h30 de debates acalorados entre deputados da base e da oposição. Houve pedido para retirada da leitura de pauta, que suscitou bate-boca e dedos em riste. Após a confusão, Perondi fez uma interpretação dramática do parecer e falou em “juízo fiscal” caso a PEC não seja aprovada. “Caso nada seja feito, o dia do juízo fiscal chegará e atingirá a todos, famílias, aposentados, funcionários públicos e empresários”, disse.

O novo texto endureceu as punições em caso de descumprimento do limite de gastos, mas alguns dispositivos incluídos prometem gerar polêmica no próprio Congresso. O principal deles é a proibição de medidas que impliquem reajuste de despesa obrigatória acima da inflação, o que atinge diretamente o salário mínimo em caso de estouro do teto pelo Executivo. “O reajuste do salário mínimo pela inflação está assegurado. Mas há vedações para aumentos superiores à inflação em caso de descumprimento do teto por cada poder”, disse Perondi. A medida é considerada importante pela equipe econômica.

Punição. O novo texto ainda prevê veto à revisão geral anual das remunerações de servidores públicos. Isso significa que, em caso de violação ao teto, os funcionários não terão nem sequer a reposição inflacionária garantida pela Constituição. Esse artigo deve alimentar debates. A equipe econômica entende que, como a regra virá por PEC, não haverá espaço para judicialização.

O governo também previu um intervalo de três anos em que o Executivo poderá compensar o estouro do teto de Legislativo, Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública da União. Isso porque esses poderes tiveram reajustes que resultarão em impacto até 2019. Com isso, o Executivo terá de segurar despesas próprias de outras áreas para bancar os aumentos. “O governo deu um espaço de transição de três anos para eles se adequarem, que é o tempo desses reajustes que foram concedidos. Seria muito ruim começar já com estouro de teto”, disse um integrante da equipe econômica.

Saúde e educação. O substitutivo da PEC do Teto de gastos ainda formalizou mudanças já anunciadas na segunda-feira, como a alteração da referência para a despesa mínima de educação e saúde para 2017. Antes, o piso de 2016 seria tomado como base para os orçamentos futuros. O impacto mais significativo será na área da saúde: cálculos da equipe econômica mostram que a mudança melhorou o mínimo dessas despesas em R$ 10 bilhões. A avaliação é de que a medida vai dirimir a resistência à PEC, pois a bancada de deputados ligados à área da saúde fazia oposição à medida.

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O mecanismo inicial de correção do teto de gastos será a inflação acumulada em 12 meses até junho do ano anterior, regra que valerá a partir de 2018. Para o ano que vem, o índice de 7,2% já foi definido no Orçamento. O texto confirmou que, a partir do 10.º ano de vigência da PEC, será possível mudar a regra por mandato presidencial.

Deputados da oposição prometeram ser combativos e afirmaram que ingressarão com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal contra a tramitação da proposta.

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