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Pela primeira vez desde 1994, Brasil encerra o ano com preço dos alimentos em patamar mais baixo

Por trás do movimento está a maior produção agrícola da história

Por Daniela Amorim (Broadcast) e Vinicius Neder
Atualização:

RIO DE JANEIRO - Pela primeira vez desde a criação do Plano Real, em 1994, um ano terminou no Brasil com preços de alimentos mais baratos. Dentro do IPCA, índice de inflação calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo Alimentos e Bebidas recuou 1,87% em 2017, contribuindo para a economia brasileira registrar a menor inflação desde 1998. Por trás do movimento está a maior produção agrícola da história. Segundo economistas especializados em agropecuária, o campo viveu condições perfeitas na safra 2016/2017, colhida ano passado. 

Nos últimos dois meses, a ambulante Ivanise da Silva Limanão viu os preços das goiabas que vende no Centro do Rio caírem. Mas em Magé, na região metropolitana do Rio, onde mora, a vendedora já percebeu um alívio. Foto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO

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“A agropecuária, mais uma vez, ajudou a economia a ter musculatura”, afirmou Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Em primeiro lugar entre as condições perfeitas, veio o clima. “Uma condição climática favorável nunca foi tão generalizada”, disse a consultora independente Amaryllis Romano, especializada em agropecuária. Segundo a economista, o clima foi o ideal ao longo de toda a safra (do verão iniciado em 2016 ao segundo semestre de 2017) e em todas a regiões produtoras.

Completaram as condições perfeitas o fato de o câmbio ter se mantido estável ao longo da safra, os custos controlados na época do plantio e o mercado internacional favorável. 

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Com a oferta maior, os alimentos para consumo em casa caíram 4,85% ano passado. As frutas foram destaque, com queda média de 16,52% nos preços. Ainda assim, vários produtos apenas viram os preços devolverem as altas de 2016. As frutas haviam subido 22,67% naquele ano. 

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Nos últimos dois meses, a ambulante Ivanise da Silva Lima, de 25 anos, não viu os preços das goiabas que vende no Centro do Rio caírem. Mas em Magé, na região metropolitana do Rio, onde mora, a vendedora já percebeu um alívio.

“A carne deu uma maneirada um pouco. Devagarinho, os preços estão caindo”, disse Ivanise na quarta-feira, 10, pouco antes do almoço, quando o dia de sol no Rio alimentava esperanças de boas vendas. 

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O motorista Anderson Vaz de Freitas, de 46 anos, também sente preços mais baratos, mas não de forma generalizada. “Alguns produtos ficaram mais baratos, tipo café, arroz, feijão. Não é em todo supermercado, depende do lugar, tem que procurar o melhor preço”, disse Freitas, quando deixava um supermercado no Centro do Rio.

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André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), lembrou nem todos os consumidores percebem a queda nos preços dos alimentos da mesma forma por motivos distintos. Entre os mais pobres, o desemprego derruba a renda da família, que, mesmo diante de preços menores, é obrigada a gastar menos.

Para os mais ricos, os gastos com alimentos no supermercado têm menos peso no orçamento, consumido por altas nos planos de saúde (13,53% mais caros em 2017) e mensalidade escolar (alta acumulada de 8,37%).

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Segundo os economistas ouvidos pelo Estado, a deflação de alimentos não se repetirá em 2018. Os custos de produção, especialmente de sementes e agrotóxicos, estavam mais caros no plantio, no fim do ano passado, disse Conchon, da CNA. Além disso, dificilmente o clima será tão favorável. 

Mesmo assim, não está no radar dos especialistas uma grande seca capaz de derrubar a produção agrícola e fazer os preços voltarem a disparar.

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