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Pequenas empresas investem na área social

Por Agencia Estado
Atualização:

A maior parte das empresas de pequeno porte no País, mesmo com faturamento baixo e pouca disponibilidade de recursos, investe em ações na área social. Um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, ao contrário do que se poderia supor, o tamanho não é obstáculo para micro e pequenas empresas assumirem o papel da responsabilidade social. De um total de 462 mil empresas que efetuam algum tipo de ação nesta área, 58% têm de um a dez empregados, segundo o levantamento do Ipea. "A participação dos pequenos surpreende e também o fato de que a maioria realiza estas ações de maneira contínua", diz a coordenadora-geral da pesquisa, Anna Maria Peliano. É claro que na análise dos dados gerais da pesquisa o envolvimento é maior entre as grandes empresas. Entre aquelas que contam com mais de 500 empregados, 88% realizam ações para comunidades carentes. Este índice é de 67% no caso das empresas que possuem de 100 a 500 funcionários e de 69% para quem dispõe de 11 a 100 empregados. Entre as micro, com até dez funcionários, 54% atuam na área social. O principal motivo para a participação é a filantropia, na opinião de 79% das microempresas, enquanto a mesmo justificativa é apontada por 46% das grandes empresas. "Os grandes, além da questão humanitária, revelam outras preocupações, como a imagem da empresa junto ao público, o aumento do envolvimento dos empregados com a empresa, o ganho das comunidades carentes e até a questão fiscal", diz Anna Peliano. Proprietário da Gráfica Columbia, em Brasília, o empresário Ciro Heleno Silvano, com 13 empregados e faturamento anual em torno de R$ 800 mil, mantém um orfanato para 65 crianças e jovens e começa a construir uma segunda casa para abrigar mais dez menores. As crianças estudam e quando completam 16 anos, além de freqüentar a escola, começam a trabalhar."Fui uma criança assim, criada em vários lugares, e mantenho esta casa para ajudá-las", diz. Ele aplica em média 10% do faturamento da empresa no projeto, pede bolsas em escolas e ajuda para amigos e comerciantes. O que move Ciro a investir no abrigo é a filantropia e o fato, segundo ele, de seguir o espiritismo. "Não tenho benefício fiscal porque como empresa pequena estou enquadrado no Simples e pago um imposto fixo sobre o faturamento." A gratificação pessoal em beneficiar a comunidade é o resultado mais perceptível para 70% dos pequenos, de acordo com a pesquisa. O foco de atuação das empresas em geral, independentemente de seu porte, tem sido a assistência social. Entre as pequenas, 48% apontaram esta área como prioritária nas suas ações. Segundo Anna Peliano, o conceito de assistência social é muito amplo e as empresas incluem neste item desde pequenas doações até o atendimento de demandas de emergência das comunidades. "Neste caso entram ajuda a creches, doação de cestas básicas, arrecadação de agasalhos, mas muitos não valorizaram este tipo de ação social", diz a coordenadora da pesquisa. O empresário Ricardo Reis, da Ótica Lunetterie, no Rio, por exemplo, com uma lista de clientes que contempla artistas como Malu Mader, Andréa Beltrão e Carlos Manga, e políticos como Miro Teixeira, entre outros, distribui por mês de 35 a 40 óculos. Os beneficiados são carentes, principalmente crianças e idosos, de várias instituições, mas o empresário afirma que a doação "significa muito pouco". Apenas 17% das empresas de pequeno porte realizam ações sociais relacionadas à educação, ante um total de 35% das grandes. O proprietário do Açougue Cultural T-Bone, em Brasília, Luiz Amorim, que vende carnes e oferece livros, no molde de uma biblioteca, é dos que investem nesta área. Analfabeto até os 16 anos, Amorim, depois de aprender a ler, passou a valorizar a educação. "Terminei o 2.º Grau, li muito e quando comprei o açougue decidi que meus funcionários teriam de estudar." Hoje seus 12 empregados vão à escola. Mas além desta exigência ele resolveu montar uma biblioteca, com doações da comunidade, num espaço vago do estabelecimento, localizado numa área de classe média. "São 6 mil títulos disponíveis para a comunidade a custo zero. Ajudo as pessoas e tenho um serviço diferenciado", diz. Amorim também promove eventos culturais com apresentações musicais, de peças de teatro e exposições de arte. De acordo com o Ipea, as 465 mil empresas envolvidas com ação social no País investiram R$ 4,7 bilhões em 2000. Mesmo expressivo, o valor corresponde a apenas 0,4% do PIB.

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