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Perdas com seca somam R$ 632 milhões no RS

Por Agencia Estado
Atualização:

O açude quase seco, a lavoura de milho perdida e a de soja ameaçada tiraram o sono do agricultor Valentim Fioresi, que contava com uma colheita que lhe rendesse R$ 25 mil, suficiente para pagar a dívida de R$ 15 mil contraída com a compra de um trator. A chuva, se vier, poderá salvar parte da soja, mas não vai mais livrar Fioresi do déficit e de penosas renegociações. A situação é semelhante à de 150 mil famílias espalhadas por quase todas as regiões do Rio Grande do Sul. A quebra na safra de milho chega a 20,3%, 15,3% na de soja, 1,3% na de arroz e 25,2% na de feijão, com prejuízos que, somados, totalizam R$ 632 milhões, conforme cálculo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Em todo o Estado há uma redução substancial na entrega de leite, que chega a 40% nas zonas mais afetadas pela estiagem, segundo estimativa da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag). O otimismo dos produtores, que previam colher 16,7 milhões de toneladas, vem murchando desde o início de dezembro, quando ocorreu a última chuva em todo o território gaúcho. A Secretaria da Agricultura admite a perda de 2,063 milhões de toneladas de grãos, uma redução de 12,4% em relação à expectativa inicial. Este porcentual está consolidado e não vai mudar, mesmo que a esperada chuva chegue nos próximos dias e permita o replantio do milho em algumas regiões e revigore as plantações de soja. Individualizadas, as contas dos agricultores das regiões mais atingidas, como a central, o Médio Alto Uruguai e as Missões, onde está a maioria dos 167 municípios qu e decretaram estado de emergência, são bem piores que as estatísticas oficiais, que incluem aqueles que escaparam da estiagem. Em São Luiz Gonzaga, perto da fronteira com a Argentina, o pequeno produtor Orli Krest perdeu quatro hectares de milho e sofre com a falta de água potável, que busca diariamente em um poço a quatro quilômetros de distância. No assentamento Santa Rosa, em Tupanciretã, Valentim Fioresi, que viu as 2 mil traíras que tinha no açude morrerem, tenta preservar as seis vacas leiteiras e seis bezerros alimentando-os com a palha do milho perdido e com o filete de água que restou no reservatório. A venda dos animais não está descartada se a quebra da soja for superior a 50%. A produção das 30 vacas leiteiras do agropecuarista Dario Castelli, também em Tupanciretã, baixou de 480 para 360 litros por dia. Culpa do pasto seco e ralo deste verão. Menos mal que seus 150 hectares de soja que foram abençoados por uma chuvarada na quarta-feira. "As flores e vagens já estavam caindo", relata, admitindo que mesmo com a chuva a perda da cultura será superior a 50%. A altura da soja semeada na região deveria ter mais de um metro, mas não passa de 30 centímetros, segundo o técnico rural José Geraldo Ozelame, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). Nos 25 municípios do nordeste do Estado que têm agricultores associados à Cooperativa Regional Tritícola Serrana (Cotrijuí) as perdas são menores e chegam, em média, a 50% da safra do milho, a 20% da soja e 10% da produção de leite. Este cenário, observa o coordenador de negócios da cooperativa, Romeu Orsolin, indica aumento de preços em toda a cadeia. O milho, que serve de ração a suínos e aves, custará mais ao produtor, que pedirá reajuste aos frigoríficos que, por sua vez, tenderão a repassar os reajustes ao consumidor. Essa pressão ainda não chegou ao mercado mas, como a analista Amaryllis Romano, da Tendência Consultoria Integrada, de São Paulo, disse durante a semana, pode elevar os preços das carnes de frango e suíno em 10% ao longo de 2002.

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