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Perdas e ganhos com o racionamento

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar do impacto menor do que o esperado o racionamento provocou perdas milionárias em alguns setores industriais, sobretudo os eletrointensivos. Ao mesmo tempo foram registrados ganhos extraordinários para produtos e serviços demandados no período. Juntos, por exemplo, os setores de alumínio e cloro-soda tiveram perdas de US$ 463 milhões no ano passado. Na outra ponta, fabricantes estrangeiros de lâmpadas eficientes faturaram US$ 98,4 milhões com a venda da mercadoria para o Brasil, 215% acima do resultado de 2000. Com o desligamento das cubas de fabricação de alumínio primário, para a economia de energia, a produção caiu 11,1% no ano passado. O setor foi obrigado a jogar no mercado interno o alumínio que destinado ao exterior. Exportações de US$ 320 milhões do produto foram perdidas e a expectativa, agora, com o esperado fim do racionamento, é retomar a produção este ano aos mesmos níveis de 2000, projeta o presidente em exercício da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), Flávio Zurlini. A Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor) informou que as perdas comerciais do setor chegaram a US$ 143 milhões, segundo Martin Afonso Pena, diretor da entidade. Em razão do corte de produção, foi necessária "importação maciça" de soda cáustica. O setor torce pelo fim do racionamento. "Quando acabar, no mesmo dia retomamos a nossa produção", contou o presidente da Carbocloro, Arthur C. Whitaker de Carvalho. A empresa passou de exportadora a importadora, por incapacidade de produção, e quer voltar a vender para o exterior. Como o ano passado foi marcado por uma série de choques econômicos - desvalorização do real, crise argentina, desaquecimento nos Estados Unidos e na economia global, e ataques terroristas - alguns analistas econômicos preferem não estabelecer relação exclusiva entre as variações da atividade e a crise de energia. "É difícil isolar o racionamento como razão da queda da produção industrial, já que outros fatores também influenciaram o desempenho", argumenta o chefe do Departamento de Indústrias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Salles. Alguns dados do instituto, contudo, indicam os efeitos da economia compulsória de eletricidade nas fábricas. Até novembro, a produção física do País avançou 2,1%. Nas indústrias intensivas em consumo de energia, contudo, houve queda de produção: menos 1,9% nos 11 meses do ano passado. Em alguns setores, o racionamento parece ter desempenhado papel preponderante na retração de atividade. Alguns exemplos: cimento (-3,4% até novembro), siderurgia (-2,8%), têxteis (-4,8%) e produtos minerais não metálicos, aqui incluídos itens como tijolos e azulejos, (-3%). "O impacto econômico global foi relativamente pequeno. A maior parte das indústrias conseguiu remanejar produção. Previa-se que o PIB cresceria 4,5% em 2001, mas cresceu algo entre 2% e 2,5%. Ter conseguido expansão, apesar de tudo o que ocorreu no ano, leva a crer que o peso do racionamento foi pequeno, num ano tão conturbado", avalia o consultor de energia da Consultoria Tendências, Armando Franco. Para ele, os ganhos de eficiência energética, daqui para frente, compensarão os problemas enfrentados. O setor de vidros, por exemplo, não sofreu como o previsto. "Foram calculadas perdas imensas, vistas nuvens muito pretas na época, como os riscos industriais no caso de um apagão, que estragaria nossos fornos", afirmou o superintendente da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro). Na prática, o ajuste não veio de dentro da indústria, mas pelo lado da demanda: clientes deixaram de consumir, por conta de vários motivos, um deles o próprio racionamento, que gerou receio generalizado. Ainda assim, o impacto da demanda foi diferenciado conforme o tipo de produto. Enquanto o segmento de embalagens de vidro para bebidas e alimentos cresceu 5% no ano passado, produtos tipicamente voltados à indústria automotiva registraram queda ao longo do ano. Em outubro, a produção de vidros para pára-brisa caiu 30%. Na fabricação de lâminas de vidro para a linha branca (geladeira e fogões), a retração foi de 50% no mesmo mês. No pólo oposto, a venda de alguns itens disparou. Segundo o IBGE, a produção de equipamentos para o setor elétrico aumentou 46% até novembro, acompanhando os investimentos em energia. A venda de lâmpadas mais eficientes decolou. O fenômeno foi logo percebido, mas somente agora pode ser quantificado. Em 2001, o Brasil importou 102,409 milhões de lâmpadas, 206% acima de 2000, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em valores, as importações triplicaram em relação aos US$ 31,26 milhões do ano anterior. Apenas da China, o País comprou US$ 69 milhões em lâmpadas no ano passado, 366,7% acima do ano anterior. O item está na segunda colocação da pauta de compras brasileiras daquele país, atrás apenas do carvão. O Brasil não produz as chamadas lâmpadas fluorescentes compactas, justamente as procuradas no período de racionamento. Ganharam também fabricantes da Alemanha, Hong Kong, Coréia, Estados Unidos e Hungria, entre outros países. As lâmpadas eficientes avançaram sobre as incandescentes (que eram comumente utilizadas) de tal forma que grandes indústrias tiveram de fazer ajustes na área fabril. A holandesa Philips, por exemplo, informou que foi obrigada a "adequar a produção da fábrica à nova demanda dessas lâmpadas via diminuição de turnos". "O Brasil já fez estas lâmpadas (eficientes) no passado, mas a demanda era muito pequena", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria da Iluminação (Abilux), Carlos Eduardo Uchôa Fagundes. Sinal dos tempos, o objetivo agora é produzir as fluorescentes compactas no País.

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