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Peso dos juros chega a 25% do custo de produção

Siderurgia e autopeças atingem esse porcentual, e média do restante da indústria é de 14%

Por Agencia Estado
Atualização:

Num país com taxas de juros das mais altas do mundo, empresas e consumidores têm de apertar cada vez mais o cinto para sobreviver. Dados do Banco Central mostram que pessoas físicas e jurídicas deviam R$ 380,6 bilhões em março, o equivalente a 28,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Um estudo feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) indica que, na média das empresas do setor, 14% do custo da produção corresponde aos juros, que encarecem o capital de giro. Mas esse número pode chegar a 25%, no caso das siderúrgicas e autopeças. Só nas carteiras livres dos bancos, as dívidas das empresas brasileiras somavam R$ 135,9 bilhões em março, sem contar empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e das carteiras rural e imobiliária dos bancos. Os juros altos também pesam no orçamento das pessoas físicas, que em média gastam até 29,8% dos seus rendimentos para cobrir encargos financeiros variados, segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Esse valor é gasto, por exemplo, na hora de usar o limite do cheque especial ou de assumir uma prestação para a compra de bens duráveis. Segundo o BC, os brasileiros deviam R$ 79,6 bilhões aos bancos em março. Em muitos casos, os juros elevados tornam as dívidas impagáveis. Garantia "A produção espera há muito tempo que os juros caiam, e os indicadores econômicos mais recentes mostram que já há condições para isso. Não se sabe o que o Banco Central está esperando. Talvez queira uma garantia por escrito de que a inflação não vai subir", diz o diretor do Departamento de Competitividade da Fiesp, Mário Bernardini, com ironia. Bernardini referia-se à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta semana, que vai decidir a manutenção ou não da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 26,5% ao ano. Na avaliação do diretor da Fiesp, se as taxas de juros do mercado recuarem dos atuais 60% ao ano pagos em média pelas empresas, para 45% (nível de abril do ano passado), o custo de produção no País poderia ter uma redução de cerca de 4 pontos porcentuais, reduzindo os preços ao consumidor. Além de encarecer o produto brasileiro, os juros elevados fazem estragos diretos no bolso dos consumidor. Para a Anefac, nenhum outro item tem peso tão elevado nas despesas das famílias como os encargos financeiros. Os gastos com habitação e alimentação, por exemplo, consomem fatias do orçamento doméstico de 24,6% e 22,8%, respectivamente. "O brasileiro não deve muito, ele deve mal", observa o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira. O americano, por exemplo, financia uma casa para pagar em 30 anos, com juros de 5% ao ano. "O problema é que o brasileiro precisa de crédito até para as despesas correntes, e se endivida no curto prazo e a juros altos." Os motivos que levam o brasileiro a aumentar o seu endividamento foram pesquisados pela Associação das Empresas Brasileiras de Recuperação de Crédito (Aserc). Nada menos que 53,67% usam o dinheiro emprestado para quitar dívidas. "Com o salário comprimido, cada vez mais brasileiros têm de se endividar para custear as despesas", diz o presidente da Aserc, Rogério Bonfiglioli. A cabeleireira Maria Aparecida Ferreira Cruz sente na pele o peso dos juros. Para ajudar sua filha Graziella a se livrar de uma dívida de R$ 3 mil no cartão de crédito, ela recorreu à Associação dos Direitos Financeiros do Consumidor (Proconsumer) para tentar renegociar o débito. "Há mais de um ano eu e minha filha pagamos o valor mínimo do crédito rotativo do cartão e a divida só faz crescer", afirma. Os juros altos são uma das principais causas da contínua queda do nível de atividades. Com crédito escasso e caro, as empresas não investem na produção, o que impede a criação de postos de trabalho. Não é por menos que a indústria paulista fechou quase 50 mil vagas nos últimos 12 meses.

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