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Pesquisa do IBGE é insuficiente para avaliar emprego nacional

Os motivos são a heterogeneidade do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas e as diferenças de características do emprego

Por Agencia Estado
Atualização:

A heterogeneidade do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas e as diferenças de características do emprego nas grandes cidades em relação ao interior tornam a Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) insuficiente para análise do desemprego em nível nacional, alerta Marcelo de Ávila, especialista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O IBGE divulgou na quinta-feira a maior taxa de desemprego em 15 meses, de 10,7%, relativa ao mês de julho. A reação do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, foi de espanto. Ele chegou a dizer, logo após a divulgação da pesquisa, que não sabia "onde o IBGE encontrou esses números" que diferem dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apurado pelo Ministério do Trabalho. O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, disse que desconhece o teor integral do depoimento do ministro. "O que posso dizer é sobre o trabalho do IBGE: a pesquisa tem metodologia transparente e de conhecimento público, os critérios foram os mesmos de sempre, não há mudança nenhuma", afirmou. Ávila explica que comparar o Caged - que mostrou aceleração do mercado de trabalho em julho, ao contrário da PME - com os dados do IBGE é como "comparar banana com laranja". Para ele, somente a análise das duas pesquisas, em conjunto, permite uma real visão do mercado de trabalho no País. Em julho, com foco nas duas pesquisas, segundo Ávila, é possível afirmar que os locais fora das grandes regiões metropolitanas apresentaram um desempenho melhor do mercado de trabalho do que as maiores cidades do País. O Caged pesquisa apenas o emprego formal, do setor privado, em todas as unidades da Federação, incluindo os municípios. O IBGE, ao contrário, pesquisa a ocupação formal e informal no setor público e privado e os dados da PME abrangem somente as seis principais regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife). Ávila lembra que os técnicos do IBGE sempre ressaltam que os dados apurados não são nacionais, mas limitam-se às regiões pesquisadas. Mas, ainda assim, muitos avaliam os números como um espelho nacional do desemprego, já que essa é uma estatística oficial. O objetivo do instituto é tornar a pesquisa nacional a partir de 2008, possivelmente com ampliação do prazo de divulgação de mensal para nacional. "A evolução do mercado de trabalho está acontecendo de forma muito heterogênea", afirma o economista do Ipea. Segundo ele, é difícil apontar os motivos dessas diferenças nos desempenhos entre as regiões pesquisadas, mas há um ponto em comum entre todas elas: é difícil compreender por que não há uma aceleração mais forte do emprego num cenário de juros em queda, aumento de gastos do governo e inflação em patamares baixos e sob controle. Disparidades Em julho, para uma taxa média de desemprego de 10,7% nas seis regiões metropolitanas pesquisadas, o IBGE apurou taxas mensais completamente diferentes em Recife (15,3%, a maior entre as regiões) e Porto Alegre (8,7%, a menor taxa). Além disso, o rendimento médio real dos trabalhadores, que na média das seis regiões caiu 0,7% em julho ante junho, só apresentou queda nessa base de comparação em duas regiões: São Paulo e Recife.

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