Petrobrás volta a reajustar preços; gasolina já acumula alta de 34,8% no ano e o diesel, de 27,5%

A empresa destacou, em comunicado, que mantém seus preços alinhados aos do mercado internacional e que o valor cobrado do consumidor é acrescido de tributos federais e estaduais, além de outros custos

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Por Fernanda Nunes
3 min de leitura

RIO - A Petrobrás anunciou nesta quinta-feira, 18, o maior reajuste de preços de combustíveis do ano. O óleo diesel vai ficar 15,2% mais caro a partir desta sexta-feira, 19, e a gasolina, 10,2%. Com mais esse reajuste, o quarto desde o início de janeiro, o diesel e a gasolina já acumulam alta de 27,5% e 34,8% em 2021. Tamanho avanço de preço nas refinarias vai atingir o consumidor nesta semana e também deve aparecer nos indicadores de inflação de março. 

Os preços da Petrobrás estão alinhados aos do mercado internacional. Ou seja, quando a cotação do petróleo sobe nas principais bolsas de negociação do mundo, a estatal revisa seus valores também no Brasil. O petróleo é a matéria-prima dos combustíveis e, por isso, costuma ser usado como referência na formação dos preços dos seus derivados, como gasolina e diesel. 

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Novo aumento no preço da gasolina e do diesel nas refinarias da Petrobrás passa a valer na sexta-feira. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Neste mês, o preço do petróleo ganhou força principalmente por conta do frio nos Estados Unidos, onde o consumo avançou e os estoques baixaram em quase 6 milhões de barris. Além disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep, cartel que reúne alguns dos maiores produtores globais) tem indicado cortes de produção, para forçar ainda mais a alta dos preços. 

Com a expectativa de que haja mais demanda que oferta de óleo no mundo, o produto está ficando mais caro. Em Londres, o barril do petróleo do tipo Brent fechou o pregão de quarta-feira a US$ 64,34, patamar que não era alcançado desde janeiro do ano passado, antes da pandemia de coronavírus.

Para o mercado, o anúncio de mais um reajuste de preços nesse momento é uma mostra de que a Petrobrás tem conseguido manter sua política de preços ao largo dos interesses políticos do governo. A empresa vinha sendo acusada de segurar a alta do diesel, principalmente, para favorecer os caminhoneiros, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, e para conter a inflação. Os caminhoneiros chegaram a ameaçar uma greve caso o combustível continuasse subindo na bomba.

As acusações geraram uma crise na imagem da Petrobrás, que alega autonomia em relação ao governo, seu principal acionista. No início do mês, Bolsonaro, o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, reuniram a imprensa para reafirmar a independência da estatal. Desde então, a petrolífera anunciou dois novos reajustes. O último, nesta quinta-feira. 

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Impacto na inflação

Os combustíveis vão começar a pesar no bolso da população a partir desta semana e na inflação, em março, segundo analistas de mercado. 

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, acredita que "tal magnitude de reajuste na refinaria deve afetar as bombas apenas no terceiro decêndio de fevereiro, com grande parte do impacto no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de março". A Armor Capital projeta alta de 0,15 ponto porcentual na inflação do mês que vem.

Até então, os consumidores não estavam sentindo tanto os reajustes nas refinarias porque os donos de postos estavam conseguindo segurar ao menos parte dos reajustes da Petrobrás. No ano, a gasolina subiu 7% na revenda e o diesel, 4,3%, segundo a consultoria StoneX.

Até chegarem à bomba, a gasolina e o diesel produzidos pela estatal passam ainda por distribuidores e revendedores. No meio do caminho, são acrescidos tributos aos seus preços. Portanto, cada elo dessa cadeia tem o seu próprio peso na formação dos valores cobrados nos postos.

José Alberto Gouveia, representante dos revendedores de combustíveis de São Paulo, diz que, com a pandemia de coronavírus, o consumo de combustíveis caiu nos últimos meses. Esse fator, somado à concorrência, fez com que os donos de postos contivessem parte dos reajustes da Petrobrás até esta semana. Mas, a partir de agora, a tendência é que repassem a maior parte da alta para as bombas.

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"Com o novo aumento, vai ser muito difícil conter o preço. Cada dono de posto vai ver o que consegue fazer. Estamos lutando contra o mercado", afirma Gouveia, acrescentando que a revenda tem reduzido suas margens de lucro e cortado custos, principalmente, demitindo funcionários. "Temos de ter rentabilidade para pagar as despesas", diz ele. /COLABOROU THAÍS BARCELLOS

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