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Petrobrás diz que agora poderá focar em óleo e gás

Segundo presidente da estatal, decisão do STF mostra que País tem ‘instituições fortes’

Por Fernanda Nunes e Monica Scaramuzzo
Atualização:

RIO/SÃO PAULO - A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de liberar a venda de subsidiárias de estatais sem o aval do Legislativo demonstra, segundo o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, que “instituições fortes funcionam no Brasil”.

Segundo o executivo, com a venda de subsidiárias, a empresa poderá focar no seu negócio principal, que é a produção de petróleo e gás, principalmente no pré-sal.

Para analistas, a decisão do Supremo abriu um cenário bem mais positivo para a Petrobrás. A estatal tem um plano de venda de ativos com o qual pretende levantar cerca de US$ 27 bilhões.

A estatal tem um plano de venda de ativos com o qual pretende levantar cerca de US$ 27 bilhões Foto: Paulo Vitor|Estadão

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Um desses ativos, citado pelo próprio Castello Branco, é a sua distribuidora de gás de cozinha (GLP), a Liquigás. “Vemos a decisão do STF como uma importante salvaguarda para a continuidade do programa de desinvestimento da Petrobrás”, disseram os analistas Thiago Duarte, Pedro Soares e Daniel Guardiola, do BTG Pactual. 

Para o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, no entanto, a importância da decisão vai muito além da Petrobrás. “A decisão do STF não tem a ver só com a Petrobrás, tem a ver com um futuro promissor do País”, disse.

Privatizações 

A equipe econômica tem um plano ambicioso de venda de estatais, e a votação no Supremo dá mais segurança jurídica para a execução desse plano. Segundo estimativas do banco Credit Suisse, o governo tem potencial para levantar R$ 400 bilhões com a venda de estatais – incluindo-se aí as chamadas “empresas-mãe”. Nesses casos, porém, o Supremo decidiu que será necessário o aval do legislativo para a venda. 

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Um outro levantamento, feito pela consultoria alemã Roland Berger, indica que o governo tem potencial para captar cerca de R$ 100 bilhões somente com a venda das empresas investidas pelo braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), o BNDESPar. Entre as principais empresas estão a JBS e Marfrig

Outro importante ativo que pode ser negociado pelo governo é a empresa de energia Eletrobrás. Mas, em vez de vender ativo por ativo, Antonio Bernardo, presidente da Roland Berger para América Latina, defende transformar a empresa em uma “corporation” (companhia com capital pulverizado, sem um controlador definido), com o governo mantendo uma “golden share” (ação especial que dá poder de veto) para decidir sobre aspectos estratégicos da companhia. 

Segundo Bernardo, a Eletrobrás tem potencial de atingir valor de mercado de até R$ 100 bilhões nos próximos dois a três anos – hoje, está em torno de R$ 46 bilhões. “Nesse modelo, o governo poderia vender suas ações aos poucos no mercado”, disse.

A abertura de capital e a emissões de ações de empresas já listadas (follow on) já são práticas que têm sido adotadas por estatais. A BR Distribuidora, da Petrobrás, abriu seu capital no fim de 2017, levantando cerca de R$ 5 bilhões. Agora, a Petrobrás, que detém 70% das ações, pode vender os papéis e reduzir sua fatia abaixo de 50%.

Modelo semelhante poderia ser adotado para o Banco do Brasil. Mas Bernardo reconhece que não há disposição de o governo privatizar o Banco do Brasil, Caixa e Petrobrás. 

Crise política

Especialista em privatização, Sandro Cabral, professor do Insper, vê as crises políticas que o governo Bolsonaro vem atravessando como um entrave para o processo de venda das estatais. “As turbulências assustam os investidores”, disse. Segundo Cabral, o governo tem um bom quadro técnico, mas a questão política não pode ser dissociada. “Não sabemos qual reforma da Previdência será aprovada.”

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Segundo Cabral, muitas empresas, sobretudo as elétricas, têm estruturas bastante complexas. “Tem de analisar se vende tudo ou fatia o negócio. Tem de pensar no processo de consolidação que isso pode gerar”, disse.

Estatal pede registro para oferta de ações da BR Distribuidora

A Petrobrás anunciou ontem que solicitou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) registro de uma oferta pública de ações (follow on) da BR Distribuidora. A ideia é reduzir sua participação na subsidiária, que hoje está em torno de 70%. O porcentual de venda pode ficar entre 20% e 30%. 

Pela cotação de ontem, a BR Distribuidora valia na B3, bolsa de valores de São Paulo, R$ 28,9 bilhões. Isso significa que a venda das ações poderia render à Petrobrás até R$ 8 bilhões. 

O anúncio ocorre um dia após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que a venda de subsidiárias de estatais não precisa passar por autorização do Congresso Nacional. Desde abril, o mercado aguardava o anúncio da venda das ações da BR Distribuidora, que ficou em espera desde que o ministro Edson Fachin suspendeu a venda da Transportadora de Gás Associado (TAG), por R$ 33 bilhões.

A venda da participação da Petrobrás na distribuidora de combustível faz parte de um amplo plano de desenvolvimento iniciado ainda sob a gestão do executivo Pedro Parente para reduzir as dívidas da companhia. A meta da estatal é se desfazer de cerca de US$ 27 bilhões até 2022.

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