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Petrobrás pode precisar de mais financiamentos

Com a forte queda na cotação do petróleo, fica difícil estatal manter cronograma de investimentos

Por Nicola Pamplona
Atualização:

O preço do petróleo ultrapassou na semana passada o limite mínimo estipulado pela Petrobrás para bancar o plano de investimentos no período 2008 a 2012, o que deve tornar a empresa mais dependente de financiamentos. Embora o presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli, tenha dito que pretende ampliar o orçamento, especialistas já apontam as áreas de refino e exploração, responsáveis pela busca de novas reservas, como as primeiras vítimas da crise financeira. No plano de negócios, a Petrobrás contava com o barril a US$ 50 em 2009 e a US$ 45 em 2010 para garantir o fluxo de caixa para os investimentos de US$ 104,4 bilhões. Nos dois anos seguintes, o chamado "petróleo de robustez", que garante a geração necessária de caixa, é calculado em US$ 35. Na sexta-feira, o barril do tipo Brent fechou em US$ 36,74, menor valor desde dezembro de 2004. Analistas prevêem que a cotação baterá os US$ 30 no primeiro trimestre de 2009. Para o banco Merril Lynch, o barril fechará 2009 a um preço médio de US$ 50, mesmo valor estipulado pela Petrobrás em seu plano de negócios. Com o aumento de custos nos últimos anos, especialistas advertem que, se confirmada a estimativa, a estatal não será capaz de garantir a geração de caixa projetada. "Uma coisa é certa: neste cenário, haverá queda brutal na geração de caixa e a empresa terá de recorrer ao mercado financeiro se quiser manter o cronograma de investimentos", diz um executivo que já passou pela Petrobrás. Outro ex-Petrobrás explica que a empresa usa projeções conservadoras de preço de petróleo para elaborar seu plano de investimentos. A partir daí, calcula o potencial de geração de caixa e a necessidade de financiamento. O plano de investimentos atual foi feito em meados de 2007, quando o petróleo rondava US$ 70 por barril, com viés de alta. Na época, a empresa projetou que precisaria captar no mercado US$ 8 bilhões para cumprir o orçamento de US$ 112,4 bilhões para o período. Cumpridas as premissas, a Petrobrás garantiria retorno de 14% sobre o capital empregado. Com a descoberta do pré-sal e o barril superando US$ 100, a Petrobrás preparava-se para alcançar outros patamares de produção e refino. A massiva produção de Tupi justificou o anúncio de duas novas refinarias com capacidade de processar 900 mil barris ao dia e investimentos de US$ 20 bilhões. A postergação das refinarias é dada como certa pelo mercado. Os projetos têm prazo mais longo que o novo planejamento estratégico da companhia, para o período 2009-2013, o que reduz o ruído que tal decisão geraria. O governo considera que os investimentos da Petrobrás são o melhor remédio contra a crise econômica e não quer ouvir falar de redução. Na semana passada, Gabrielli teve reunião reservada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff. O mercado espera a realocação de alguns investimentos, privilegiando os projetos de retorno mais rápido. "Os projetos mais intensivos de capital e de retorno mais lentos devem ser postergados", diz o consultor John Forman. A companhia já deu alguns sinais nesse sentido. O primeiro foi a elevação da província petrolífera Parque das Baleias, no norte da Bacia de Campos, ao status de prioridade número um. A região tem potencial de reservas estimado em 3,5 bilhões de barris. Localizada em águas rasas, próxima ao litoral capixaba, será a primeira reserva do pré-sal a ter produção em grande escala, desbancando a profunda área de Tupi. Há rumores de que a estatal está negociando a transformação de algumas das 12 sondas de perfuração em águas profundas contratadas este ano em plataformas de produção para o Parque das Baleias. Se confirmada, reforça especulação de uma segunda estratégia em curso: o direcionamento de recursos da área de exploração para a de produção. Em novembro, a Petrobrás pediu à Agência Nacional do Petróleo (ANP) prorrogação dos prazos exploratórios de 70 concessões arrematadas em leilões em 2003 e 2004, alegando obstáculos para cumprir os cronogramas. A medida foi encarada como tentativa de diluir investimentos exploratórios em período maior de tempo, sem que signifique perda das concessões. A companhia não comentou o assunto.

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