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Petrobras quer ampliar sua fatia no mercado de distribuição de combustíveis

Declaração do presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, foi bastante discreta, mas não deixou dúvidas sobre a intenção da empresa

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, apontou nesta quarta-feira a possibilidade de a BR Distribuidora, braço da companhia na revenda de combustíveis no País, adquirir uma outra empresa para ampliar sua fatia no mercado de distribuição. A declaração de Gabrielli foi bastante discreta, mas não deixou dúvidas sobre a intenção da empresa. O presidente da Petrobras estava participando de uma teleconferência com analistas estrangeiros para detalhar a revisão do planejamento estratégico da empresa para os próximos cinco anos quando foi indagado por um analista americano sobre a razão do aumento de 131% (de US$ 900 mil para US$ 2,2 bilhões) no segmento brasileiro de distribuição, previsto para o período de 2007 a 2011. "Hoje existem mais de 170 distribuidoras no Brasil e há algumas disponíveis", afirmou, sendo novamente interrogado pelo analista que o questionou se poderia considerar sua resposta como uma afirmativa: "entenda como quiser", retrucou Gabrielli. O aumento já havia causado surpresa junto a analistas no Brasil, que na última segunda-feira, antes do detalhamento do plano estratégico à imprensa, haviam comentado que este montante de investimentos só poderia ser justificado com a aquisição de uma outra empresa, a exemplo do que ocorreu em 2004, quando a Petrobrás passou a atuar no segmento de distribuição de GLP, ao adquirir a Liquegas do grupo italiano ENI. Gabrielli desde então vinha justificando o acréscimo de aplicações no setor de distribuição (o que mais cresceu entre todos os demais segmentos da empresa), com a necessidade de investir em plantas de biodiesel para atender ao crescimento da demanda prevista no país a partir de 2008, quando sua adição ao diesel se tornar obrigatória. Outra justificativa de Gabrielli, foi com relação à exportação de etanol, que deve atingir a 3,5 bilhões de metros cúbicos em 2010 e exige para isso a construção de álcooldutos e de navios para transportar o combustível. Há cerca de cinco anos, a Petrobrás já havia demonstrado interesse em adquirir a vice-líder no setor de distribuição, a Ipiranga, mas foi barrada pelo governo. A argumentação feita na época pelo então ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, foi de que a companhia, já líder absoluta do mercado, dificultaria a concorrência no setor. "A Petrobras tem que crescer pela eficiência e não através de compras, que restringiriam a competição", afirmou Tourinho à época. Fora do Brasil, a Petrobras realizou no ano passado uma série de aquisições no segmento, ao arrematar os postos da Shell em três países: Uruguai, Paraguai e Colômbia. Em contrapartida, teve que entregar os seus postos de revenda na Bolívia para a companhia estatal local, a YPFB, após o decreto de nacionalização das reservas de gás natural no país em maio. Alta nos custos Gabrielli voltou a frisar o forte impacto no planejamento estratégico da empresa, do aumento de custos que o setor de petróleo teve no mundo todo. Ele citou como exemplo deste acréscimo, os custos com sondas de perfuração, afretamento de navios e estudos sísmicos que, em geral, chegaram a triplicar de preço. Ainda segundo Gabrielli, o aquecimento do mercado se deve principalmente à elevação no preço do petróleo. Ele apresentou um gráfico aos analistas, no qual fica claro que desde 2003 os preços de equipamentos e serviços estão colados com o do barril de petróleo. Além do aumento dos custos, Gabrielli lembrou que o aquecimento do mercado ainda ocasionou outras duas reações no mundo todo: a elevação dos prazos de entrega nos equipamentos e a dificuldade de negociação com fornecedores por indisponibilidade de material, devido à intensa concorrência entre todas as empresas petrolíferas. "Isso exige uma readequação de alguns projetos", afirmou. Apesar disso, a Petrobras manteve a absoluta maioria dos seus projetos (US$ 69 bilhões) que estavam previstos para o período de 2007 a 2011. A única alteração citada por Gabrielli - porém, não detalhada - foi a antecipação de um projeto de US$ 400 milhões e o cancelamento de outro no mesmo valor. Unidades regaseificadoras Gabrielli, confirmou que a Petrobras deve instalar uma ou duas unidades regaseificadoras no país, para processar cerca de 20 milhões metros cúbicos de gás natural por dia. O volume, segundo ele, só serão importados para suprir demanda flexível de gás no país, como no caso de atender emergencialmente usinas termelétricas. Este total corresponde a metade do que a Petrobras acredita ser o necessário para atender a todas as térmicas funcionando simultaneamente (48,4 milhões de metros cúbicos de gás por dia). "Apesar de acreditarmos que esta é uma possibilidade bastante remota, trabalhamos com ela para maior segurança no abastecimento", afirmou. De acordo com a projeção da Petrobras, o consumo de gás no país deverá ser "explosivo" nos próximos anos, em torno de 17% ao ano, atingindo a 120 milhões de metros cúbicos por dia, dos quais 21 milhões serão destinados a consumo próprio. A Petrobras vai manter a compra de 30 milhões de metros cúbicos da Bolívia, que estão contratados até 2019 e produzir em torno de 70 milhões de metros cúbicos. Variação do preço do barril O presidente da Petrobras demonstrou que cada US$ 5 de variação no preço do barril internacional de petróleo acarretará um impacto de três pontos porcentuais no retorno do capital empregado pela companhia. Na prática, segundo o apresentado por Gabrielli aos analistas, a cada US$ 5 de elevação no preço do barril, o retorno dos investimentos aumenta em US$ 3,5 bilhões. No planejamento anterior, o impacto era de dois pontos porcentuais ou US$ 2,5 bilhões a cada US$ 5 de aumento do barril. O aumento deste impacto se deve à elevação no retorno do capital empregado de 15% para 16%. "Adotamos uma postura conservadora para que o plano tenha uma maior robustez", disse Gabrielli, lembrando que o preço básico adotado para a avaliação de financiabilidade dos projetos da companhia é de US$ 35 a partir de 2009. Isso não significa a projeção da companhia para o mercado, mas sim uma base para avaliar a viabilidade de um determinado investimento. Texto atualizado às 19h48

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