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Petrobrás reduz valor do diesel para se beneficiar do consumo da agropecuária

Petroleira aproveitou a resistência do setor frente à pandemia para tornar seu combustível mais atraente e conseguir amenizar as perdas com a queda nas vendas da gasolina

Por Fernanda Nunes
Atualização:

RIO - A resistência do setor agropecuário à crise, em comparação a outras atividades econômicas, está ajudando a Petrobrás a suportar o ano de 2020, de retração da demanda por conta do coronavírus. A estatal tem praticado preços mais baixos de diesel do que em 2019. Tradicionalmente, esse tipo de prática é comum entre as empresas que detêm grandes plantas de refino, estatais e privadas. Com isso, se ancoram num mercado cujas vendas caíram menos do que as dos demais derivados de petróleo, como as de gasolina, na comparação anual.

Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) demonstram que, em setembro, o preço do diesel na fase de produção caiu 21% ante igual mês de 2019, enquanto o da gasolina foi reduzido em 1,2%.

Consumo de diesel pelo setor agropecuário tem sustentado a Petrobrás na pandemia. Foto: Rafael Arbex/Estadão

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Esse movimento se repete desde fevereiro, quando o coronavírus e acontecimentos externos no mundo do petróleo começaram a afetar as cotações das commodities. A maior queda no preço interno do diesel, de 37% na comparação anual, ocorreu em maio, mês em que a demanda mais caiu desde o início da crise.

Também as vendas de diesel estão mais resistentes à crise do que as da gasolina, de acordo com a ANP. Enquanto as do diesel caíram 2% no acumulado do ano até agosto, as da gasolina reduziram 10,4%.

Concorrência

O mercado de diesel é ancorado, sobretudo, pelo consumo agropecuário, que neste ano deve ter safra recorde e registrou melhora na atividade no primeiro e segundo trimestres do ano. O Produto Interno Bruto (PIB) do setor no acumulado em quatro trimestres ficou em 1,5%, o único a registrar alta nessa base de comparação.

Empresas reunidas na Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) dizem não ser possível competir com a Petrobrás pelo mercado interno de diesel e acusam a petrolífera de praticar preços inferiores aos do mercado internacional. Com isso, segundo a entidade, a importação e a concorrência no Brasil estariam inviabilizadas.

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Pelas contas da Abicom, a partir de informações divulgadas pela estatal, o preço do litro do diesel nas refinarias brasileiras caiu R$ 0,65 no ano, enquanto no mercado externo a queda foi R$ 0,50. Desde maio, quando as oportunidades de importação se encerraram segundo a associação, o aumento no mercado internacional foi de R$ 0,72 e o ajuste doméstico, de R$ 0,37.

Presidente da Abicom, Sérgio Araujo acusa a Petrobrás de não atuar em linha com o seu discurso liberal. Procurada, a Petrobrás ainda não se posicionou.

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