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Petroleira Exxon Mobil perde disputa e terá de nomear conselheiro 'verde'

Investidor ativista ganhou batalha dentro da gigante do petróleo e obrigou a empresa a considerar o meio ambiente em suas decisões; especialistas falam em 'marco do ativismo climático'

Por Michael J. de la Merced
Atualização:

No início deste ano, diretores da Exxon Mobil, a gigante petroleira que descende do império da Standard Oil, viram-se em uma situação incomum: tiveram de defender a empresa contra um minúsculo investidor ativista que clamava por uma grande transformação em defesa do meio ambiente. Mais atipicamente ainda, eles se viram em desvantagem.

Nesta semana, a firma de investimento, Engine N.º 1, obteve uma surpreendente vitória, ao conquistar pelo menos dois assentos no conselho diretor da Exxon. E ainda poderá apontar um terceiro indicado, já que os votos da reunião anual de investidores da Exxon, ocorrida na quarta-feira passada, continuam a ser contados.

Pressão por mudança na Exxon envolveu fundos como o gigante BlackRock. Foto: Andrew Harrer/Bloomberg

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Essa vitória representa um dos maiores sobressaltos da história das brigas corporativas. O pano de fundo do episódio também demonstra como esse resultado se beneficiou de vários fatores – incluindo o histórico da petroleira de ignorar os investidores e o crescente desejo de fundos por investimentos ambientalmente responsáveis. “Isso é um marco do ativismo climático”, disse Edward Rock, professor de Direito da Universidade de Nova York.

O ativismo de acionistas, no qual investidores compram ações da empresa com o objetivo de transformar sua estratégia, é uma tática que produziu bilhões de dólares, levou ao estrelato financistas como Carl Icahn e forçou mudanças em importantes empresas, como AT&T e Procter & Gamble. A Engine N.º 1, que administra US$ 250 milhões em ativos, é peixe pequeno, o que faz sua vitória ainda mais memorável.

O criador da empresa, Chris James, fez fortuna como investidor em tecnologia, com fundos de hedge como a Andor Capital Management e a Partners Fund Management. Ao fundar a Engine N.º 1, decidiu colocar o foco no crescente campo dos investimentos de impacto.

Charles Penner, diretor de engajamento ativo da Engine N.º 1, é veterano no ativismo de investidores. Quando trabalhou na Jana Partners, Penner se envolveu profundamente em ataques contra empresas como a Whole Foods. Em 2018, ele organizou investidores para fazer com que a Apple levasse em consideração os efeitos de seus produtos na saúde mental das pessoas, especialmente crianças.

No início do ano passado, Penner deixou a Jana Partners, com ambições de criar o próprio fundo. Quando a pandemia começou, porém, ele negociou com James para se juntar à sua recém-criada firma e trouxe com ele a ambiciosa ideia a respeito da qual ponderava havia algum tempo: Exxon.

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O colosso de US$ 250 bilhões era ideal para ser perturbado: a Exxon ficava atrás de suas competidoras em relação à pegada de carbono, o que em algum momento poderia sair caro para a empresa. Seu conselho diretor não possuía experiência para elaborar um plano mais agressivo nesse sentido. E a gigante do petróleo tinha a reputação de ser intransigente em relação aos acionistas.

Manifestantes pró-clima também pressionaram petroleira a mudar seu processo de tomada de decisão. Foto: Jefferson Siegel/The New York Times

A chave para a vitória, de acordo com duas fontes, foi conquistar grandes investidores de fundos que têm prometido tornar seus portfólios mais amigáveis em relação ao meio ambiente. As três maiores acionistas da Exxon – Vanguard, BlackRock e State Street, que detêm um quinto da empresa – prometeram reduzir a zero as emissões de carbono das empresas em que investem até 2050.

A Engine N.º 1 anunciou sua campanha contra a Exxon em dezembro. Um fundo de pensão de professores da Califórnia e o fundo da Igreja da Inglaterra endossaram o esforço.

Após uma torrente de telefonemas, o diretor executivo da Exxon, Darren Woods, e o diretor corporativo independente da empresa, Kenneth Frazier, fizeram uma chamada de Zoom com executivos da Engine No. 1, em 22 de janeiro. Durante a reunião, Frazier adotou um tom conciliatório, mas afirmou que a empresa não considerava os indicados da Engine N.º 1 qualificados. Penner insistiu que seus quatro indicados deveriam assumir assentos no conselho da Exxon, de 12 membros. 

Queda de braço

Depois da chamada, ambos os lados se prepararam para a batalha. Ao longo de cinco meses, uma guerra começou. Esses esforços custaram à Engine N.º 1 mais de US$ 15 milhões, de acordo com uma fonte a par da situação. 

Para a Exxon, o foco foi convencer investidores de que possui planos viáveis para se preparar para um futuro de emissões mais baixas de carbono. No início de março, executivos da gigante achavam que tinham resolvido a questão. 

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A empresa chegou a um acordo com um investidor muito maior, o fundo de hedge D.E. Shaw, que também vinha pedindo mudanças de estratégia. A empresa usou esse acordo para pressionar a Engine N.º 1 a parar com a briga, e por um breve momento o pequeno fundo ficou preocupado com a possibilidade de o acordo com o D.E. Shaw reduzir o apoio à sua empreitada. Mas, em abril, a Engine N.º 1 já havia conquistado novos e proeminentes apoiadores, incluindo enormes fundos públicos de pensão dos Estados da Califórnia e de Nova York.

No fim, porém, muitos dos maiores investidores institucionais da Exxon votaram nos candidatos da Engine N.º 1. Os resultados finais podem dar à firma de investimento uma vitória ainda mais clara – e um terceiro conselheiro. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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