Publicidade

Petróleo e déficit nos EUA preocupam economistas em Davos

A constatação do crescente poderio econômico da China também é destaque

Por Agencia Estado
Atualização:

O tradicional debate sobre a economia global que abre o Fórum Econômico Mundial em Davos trouxe duas notícias: uma boa e outra má. A boa notícia é que as previsões mais pessimistas para a economia mundial, principalmente aquelas que apostavam num forte ajuste causado pelos desequilíbrios nos Estados Unidos, não foram confirmadas no ano passado. A má notícia é que elas poderão se materializar em 2006. Essa avaliação, aliada à constatação do crescente poderio econômico da China e à ameaça de uma nova alta nos preços do petróleo, dominou os debates. Logo no início do seminário, a diretora da faculdade britânica London Business School, Laura Tyson, admitiu que os analistas erraram feio nas suas previsões no fórum do ano passado, citando como exemplo a aposta numa desvalorização do dólar norte-americano. "Erramos em muitas coisas", disse. "Mas nos esquecemos do petróleo, que foi a maior ameaça de 2005 e continuará sendo um dos maiores riscos neste ano." O economista-chefe do Morgan Stanley, Stephen Roach, um notório pessimista com o atual estado da economia mundial não deu o braço ao torcer ao ser questionado sobre as previsões pessimistas que havia apresentado no fórum econômico há um ano. "2005 não foi um ano muito bom, pois ele deveria ter servido para que os desequilíbrios nos Estados Unidos começassem a ser corrigidos, o que não aconteceu", disse Roach. "O mundo não pode seguir como está hoje, estamos diante de um sério grau de complacência." Segundo ele, o intenso apetite pelo consumo entre os norte-americanos, que tem sustentando a expansão do PIB e inchado o déficit em conta corrente do País (saldo negativo nas transações dos EUA com outros países), está muito próxima de seu final. "Esse consumo foi inicialmente sustentando pela bolha nos mercados acionário, que estourou, e depois pela bolha nos mercados imobiliários, que também está acabando", afirmou. "O ajuste não ocorrerá apenas através de uma desvalorização do dólar, mas também com o fim da festa do consumo nos Estados Unidos." Questão chinesa Já o ex-presidente do Banco Central de Israel e atualmente diretor do American International Group, Jacob Frenkel, demonstrou uma maior tranqüilidade com a situação nos Estados Unidos. "A economia norte-americana é muito robusta e capaz de absorver choques", disse Frenkel. Segundo ele, um dos principais riscos para a estabilidade global seria um aumento do protecionismo causado pelo enorme superávit comercial da China com os Estados Unidos. O assessor da presidência do Banco Central da China, Min Zhu, disse que o atual crescimento de seu País, que no ano passado atingiu quase 10% segundo dados oficiais, pode estar sendo subestimado pois a metodologia empregada para calculá-lo não abrange completamente o setor de serviços. "Pequenas empresas chinesas não estão sendo contabilizadas nesta expansão", disse Zhu. "O crescimento deve ser ainda maior." Segundo ele, o maior desafio para a economia chinesa neste momento é o excesso de capacidade em alguns setores causado pelos fortes investimentos. "Mas a China deve continuar se expandindo num ritmo forte e estável nos próximos anos", disse. O ritmo da valorização da moeda chinesa diante do dólar, segundo ele, continuará sendo "muito lento". O risco de uma nova alta do petróleo foi um dos poucos pontos de total consenso entre os analistas. Laura Tyson observou que os atuais preços elevados da commodity devem continuar devido ao aumento do consumo mundial. "Se essa pressão do consumo não vai desaparecer tão em breve, a única direção que o petróleo pode seguir é para cima", disse a economista. "Qualquer interrupção na produção de algum país, como no Irã, poderia ter um efeito sério nos mercados."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.