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Petrópolis tenta sobreviver sem o dono

Prisão de Walter Faria, há quase 4 meses, deixa vácuo de liderança na empresa, que buscou empréstimos bilionários para financiar expansão

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller e Monica Scaramuzzo
Atualização:

Com o cargo de presidente vago desde que o seu fundador, Walter Faria, foi preso há quatro meses acusado de corrupção por lavagem de dinheiro e sonegação de impostos, o Grupo Petrópolis, dono da cerveja Itaipava, tem buscado empréstimos de bancos estrangeiros e fundos de investimento especializados em empresas em dificuldades para financiar sua expansão.

Faria se entregou no dia 5 de agosto à Justiça de Curitiba, após cinco dias foragido – pesam sobre ele e a empresa acusações de lavagem de dinheiro. A companhia teria destinado, entre 2006 e 2014, R$ 329 milhões à Odebrecht para que a empreiteira repassasse os valores adiante em forma de propina. O empresário, apontado como um dos 20 brasileiros mais ricos no início deste ano pela revista Forbes, teve também bloqueados seus bens, avaliados em R$ 1,3 bilhão. 

Expansão.Cervejeira vai inaugurar sua sétima fábrica em Uberaba (MG) no ano que vem Foto: Waleria Gonçalez/Estadão

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Terceira maior cervejaria do País, com faturamento líquido de R$ 9,6 bilhões em 2018 e 14% de participação de mercado – contra de 61% da Ambev e 20% da Heineken, segundo dados Nielsen obtidos pelo Estado –, a Petrópolis é há anos considerada um ativo problemático, embora o negócio seja gerador de caixa. De um lado, a empresa atrai interesse de concorrentes e de grupos estrangeiros por causa de seu crescimento. De outro, os investidores se preocupam com os intrincados problemas judiciais do grupo. 

A prisão de Faria fez a companhia passar a ser considerada um ativo “tóxico” pelos eventuais interessados em comprar a cervejaria, como as rivais Heineken e Femsa, engarrafadora da Coca-Cola. Fundos estrangeiros também teriam interesse na cervejaria (leia mais abaixo). “Depois de toda a consolidação do setor, é raro encontrar um ativo relevante de cerveja disponível em um mercado como o Brasil. É esse o ponto de atração da Petrópolis”, diz um empresário do setor de bebidas. 

Procurada, a Petrópolis afirma que a venda do controle do negócio ou a busca de um sócio estão totalmente descartadas. E diz que os projetos empresariais e de marketing seguem em seu ritmo normal.

O grupo deve inaugurar no ano que vem sua sétima fábrica, que está sendo construída em Uberaba (MG). Tem planos de construir outras duas novas unidades – uma no Sul e outra no Norte do País. Desde 2018, no entanto, a empresa vem buscando recursos para financiar seu crescimento. Recorreu à gestora americana Farallon para um empréstimo de R$ 1,2 bilhão. O fundo costuma ir ao resgate de ativos em situação de estresse. Ao lado da gigante Mubadala, de Abu Dabi, comprou uma concessão de rodovias que pertencia à Odebrecht. A Petrópolis também negociou uma linha de crédito com o banco alemão LBBW. Procurados, Farallon e LBBW não retornaram aos pedidos de entrevista.

Questionada sobre sua estratégia de financiamento, a cervejaria não comentou. 

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Liderança

Apesar de Walter Faria estar na prisão há 120 dias, o discurso do Grupo Petrópolis é de que a empresa está relativamente blindada da crise. A filha do fundador, Giulia, está interinamente à frente da companhia, amparada por cinco executivos da empresa.

A meta da defesa do empresário é reverter a prisão preventiva antes do recesso judicial de dezembro, apurou o Estado com fontes a par do assunto. A equipe legal de Faria inclui os advogados Paulo Campoi e Cleber Lopes, sócio do escritório Lopes & Versiani. O ex-ministro do STJ Paulo Gallotti se juntou recentemente ao time. Procurados, os advogados não retornaram aos pedidos de entrevista.

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Para lembrar: justificativas para a prisão

Na decisão que acarretou a prisão de Walter Faria, a Justiça elenca diferentes crimes. Um sobrinho do empresário citou um esquema para ocultar parte da produção de cerveja e gerar dinheiro vivo obtido à margem do Fisco. Esse dinheiro, diz o processo, seria repassado à Odebrecht, que devolvia os valores em dólar, depositados em contas no exterior. O empresário também faria doações eleitorais via cervejaria a nomes definidos pela Odebrecht. Pelo “serviço”, Faria receberia vantagens da empreiteira, que concedia descontos em obras realizadas para a Petrópolis. 

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