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Petros ‘engorda’ resultado com Belo Monte

Fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás avalia fatia na usina por R$ 875 milhões a mais que o cálculo feito pela Funcef

Por Josette Goulart e Mariana Sallowicz
Atualização:

RIO - Uma mudança na forma de contabilizar a participação na usina hidrelétrica de Belo Monte melhorou a performance do fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás (Petros) em 2013. Bombardeado pelo conselho fiscal, que não aprovou as contas do ano passado, e com um déficit de R$ 2,8 bilhões, o fundo fechou com uma rentabilidade negativa, longe dos 11,74% que tinha por meta render.A diferença nas contas do fundo em relação à sua participação na concessionária Norte Energia, dona de Belo Monte, de um ano para o outro, chama ainda mais atenção se comparada à forma como o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), também sócia no empreendimento com a mesma participação de 10%, registrou a operação. Enquanto o Petros contabiliza R$ 824 milhões, a Funcef dá a Belo Monte um valor negativo de R$ 51 milhões. Uma diferença portanto de R$ 875 milhões. A explicação é contábil. No caso do Petros, o fundo informou que até 2012 registrava o empreendimento pelo seu valor de custo, que até aquele ano foi de R$ 278 milhões. O Petros resolveu calcular sua participação em Belo Monte pelo que acha que vai valer no futuro quando a usina estiver pronta e em funcionamento. Já o Funcef contabiliza pelo valor de liquidação, ou seja, entende que teria uma perda se fosse vender o investimento hoje.Na prática, o Petros está contabilizando já neste ano os ganhos que entende que terá quando a usina entrar em operação. Apesar de Belo Monte representar menos de 1% da carteira total de investimentos do fundo, qualquer aplicação ficou em evidência em função do déficit que teve no ano passado.Natural. Em entrevista ao Estado, a primeira como presidente do Petros, Carlos Fernando Costa, disse que é natural que o fundo tenha déficits já que desde 2004 começou a ampliar sua carteira em títulos de maior risco, como em ações ou de crédito privado. Costa diz que isso de forma alguma significa insolvência do fundo que não é afetado no longo prazo. "Em sete anos, esse é o segundo déficit que tivemos. E em alguns anos como 2012, tivemos grande superávit". A preocupação do Conselho Fiscal é de que o fundo tenha até três anos de déficit, o que pelas regras significaria um aumento de custo para os participantes e também para os patrocinadores. Além disso, em entrevista ao Estado, o presidente do Conselho Fiscal, Epaminondas Mendes, disse que o déficit seria de R$ 7 bilhões não fossem aportes feitos pela Petrobrás em função de acordos realizados há alguns anos. Segundo informa o Petros, no ano passado em função de Termos de Compromissos Financeiros a Petrobrás aportou R$ 314 milhões apenas a mais no fundo. Costa diz que o déficit de 2013 esteve bastante relacionado ao ano ruim para a renda variável, ou seja, para o mercado acionário. Mas de acordo com o balanço, as participações que o fundo possui em companhias abertas tiveram até uma valorização. O que marcou mais fortemente o balanço foram as perdas com títulos públicos federais, de mais de R$ 4,55 bilhões. Isso basicamente se deve à forte elevação dos juros no ano passado que afetou os fundos que tinham comprado títulos quando os juros estavam baixos. Com créditos privados, as perdas foram de R$ 400 milhões, concentradas em títulos do banco BVA, em liquidação financeira, e também títulos imobiliários. No caso do BVA, o fundo também tinha aplicações na gestora do banco, a Vitoria Asset Management. Dos R$ 722 milhões em patrimônio, a maior parte foi transferida para outros gestores, sendo que mais de R$ 270 milhões referem-se à participação na empresa Multiner, que era presidida pelo ex-dono do BVA. Dos recursos que ficaram ainda sob administração da gestora Vitoria, registrou perdas de R$ 61 milhões.Boa parte dos investimentos era feita em títulos de crédito. Costa diz que o Petros ganhou muito dinheiro em 2009 e 2010 investindo em títulos que eram comprados de bancos de médio porte como o BVA e o Cruzeiro do Sul, porque fazia parte da estratégia de diversificar o risco, mas com pequena parte da carteira. Nos primeiros meses do ano, o fundo continuou tendo perdas em títulos públicos, mas espera terminar o ano melhor. O fundo planeja se desfazer de 5% de sua carteira de ações para investir em setores como varejo e infraestrutura.

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