21 de outubro de 2010 | 00h00
Depois de perder a exclusividade na produção de dois de seus medicamentos mais importantes - Lípitor e Viagra -, o laboratório americano Pfizer entrou definitivamente no mercado brasileiro de genéricos. A empresa comprou, por R$ 400 milhões, uma participação de 40% na goiana Teuto.
As negociações começaram em janeiro deste ano e o contrato foi assinado ontem de madrugada em São Paulo, depois de uma disputa acirrada - o laboratório brasileiro estava na mira de outras duas empresas.
No Brasil e em outros países, a Pfizer já tem parcerias com laboratórios de genéricos, mas é a primeira vez que a americana compra participação em uma empresa desse segmento. Até pouco tempo atrás, aliás, esse era um negócio fora de cogitação para a companhia. "Começamos a perder a exclusividade de produtos importantes, com a queda das patentes, e precisávamos de uma alternativa de crescimento", explica Victor Mezei, presidente da multinacional no Brasil - país que representa 2% das vendas globais da companhia.
Com a aquisição, a Pfizer espera aumentar sua participação na venda em farmácias de 4,6% para 6,3% nos primeiros anos de parceria, passando do sétimo para o quarto lugar no ranking do varejo. Com isso, o grupo deixaria para trás os laboratórios Aché, Eurofarma e Novartis. Esse é um mercado que movimenta US$ 15,4 bilhões por ano, e no qual a Teuto representa 1,7%.
Embora tenha uma participação modesta na venda de medicamentos para farmácias e distribuidoras, o laboratório vinha chamando a atenção do setor. "Somos a empresa que mais cresce: cerca de 20% ao ano", diz Marcelo Henriques, presidente da Teuto. Com faturamento de R$ 280 milhões no ano passado, o laboratório com sede em Anápolis (GO), foi assediado também por companhias como Aché e GlaxoSmithKline.
Inicialmente, a união das duas empresas vai ocorrer no processo de distribuição de medicamentos. A Pfizer, com presença mais forte em grandes centros urbanos e redes de farmácias, oferecerá no seu portfólio 11 produtos da Teuto. Por sua vez, o laboratório brasileiro, com vendas concentradas em farmácias independentes e em cidades do interior, também venderá medicamentos da Pfizer (a lista ainda não foi definida).
Aos poucos, o desenvolvimento de produtos também será conjunto. A Teuto terá acesso a fórmulas de medicamentos da Pfizer, antes mesmo que eles deixem de ser exclusivos, e poderá desenvolver os produtos com mais agilidade. Com a possibilidade da aquisição, a empresa chegou a interromper os estudos, já em andamento, do genérico do Viagra (para disfunção erétil) e do Lípitor (para colesterol).
Já a Pfizer poderá fabricar genéricos desenvolvidos pela Teuto e somá-los ao seu portfólio dos chamados "medicamentos maduros", cujas patentes já expiraram. Hoje, esses remédios são responsáveis por 35% das vendas da multinacional no Brasil.
A fábrica da Teuto em Anápolis tem capacidade para produzir o equivalente a R$ 60 milhões por mês em medicamentos, e atualmente faz a metade disso. A ativação de dois prédios que estão parados elevará esse valor para R$ 100 milhões. As sinergias resultantes da aquisição, no entanto, ainda não foram calculadas. A expectativa do laboratório brasileiro com a sociedade é incrementar também a exportação de genéricos e similares, que não passa de 2% de seu faturamento. "Temos a expertise de produzir para fora, mas não de vender - o que a Pfizer tem de sobra", diz Henriques.
Negócio. O contrato prevê que em 2014, a americana terá opção de adquirir 100% da Teuto, a primeira fabricante de genéricos do País. E no ano seguinte, a brasileira tem opção de venda. "Podemos prorrogar os prazos, se acharmos necessário", diz Mezei. Segundo ele, a decisão de não adquirir o controle total do laboratório surgiu já nos primeiros meses de negociação. "São negócios muito distintos e precisávamos de um tempo para aprender as particularidades de cada um." Pelo menos até 2014, Marcelo Henriques deve continuar no comando da Teuto. O conselho de administração será formado por três representantes do laboratório nacional e por dois da Pfizer. Mezei garante que, embora não haja alvos concretos no momento, a empresa continua de olho em outros laboratórios brasileiros de genéricos, para futuras aquisições ou parcerias.
"Para a Pfizer, é interessante que eles se posicionem no mercado como seus próprios competidores, já que estão perdendo a exclusividade de produtos importantes", afirma Rafael de Oliveira Carlos, diretor da consultoria Alvarez e Marsal. "Para a Teuto, que trabalha com margens muito pequenas, a vantagem é estar ao lado de uma companhia altamente capitalizada."
PARA LEMBRAR
Só este ano, duas tentativas frustradas
Antes de fechar negócio com a Teuto, a Pfizer fez, neste ano, duas tentativas frustradas de adquirir laboratórios de genéricos. Primeiro, perdeu a disputa pela brasileira Neo Química, que acabou sendo vendido para a Hypermarcas, por R$ 1,3 bilhão. Três meses depois, deixou escapar a alemã Ratiopharm - comprada pela israelense Teva. Mas o foco dos grandes laboratórios e da Pfizer são os países emergentes. No Brasil, existem 95 laboratórios de genéricos e similares. Até 2017, as fabricantes brasileiras terão a liberação para cópia de 18 moléculas, num mercado que vem registrando crescimentos de 23% ao ano, contra 14% do mercado de medicamentos em geral.
Aquecimento
US$ 920 bi
é o que deve movimentar o mercado de genéricos no mundo até 2013
60%
do mercado farmacêutico brasileiro é de genéricos. O setor tem registrado crescimento anual de 23%, enquanto medicamentos gerais crescem 14%
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