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Economia cresce, mas perspectivas, para 2022 e além, são bem pouco promissoras; leia análise

Ao fim e ao cabo, o que temos visto no Brasil é um longo período de estagnação, e não há muitos sinais de que isso possa mudar

Foto do author Alexandre Calais
Por Alexandre Calais
Atualização:

A economia brasileira cresceu 4,6% no ano passado e recuperou a perda de 3,9% de 2020, provocada pela pandemia da covid-19. Terminou o ano, dessa forma, até um pouco acima (0,5%) do patamar em que estava no fim de 2019. É um bom resultado - o maior crescimento desde os 7,5% atingidos em 2010, também efeito de recuperação de uma crise (a financeira iniciada em 2008). 

Olhando ao longo do tempo, porém, o que temos visto é uma economia em um longo processo de estagnação. No governo Jair Bolsonaro, a conta, até agora, é de uma alta de 1,2% em 2019, -3,9% em 2020 e 4,6% em 2021. As projeções para este ano são, por enquanto, de alta de 0,2%, segundo pesquisa feita pelo Projeções Broadcast. Mas agora ainda tem um fator guerra para entrar nessa conta, com inflação mais alta, provavelmente juros subindo um pouco mais, atividade econômica mais pressionada. Não dá para descartar uma queda no PIB - já há muitas instituições prevendo isso. No final das contas, praticamente não teremos saído do lugar ao fim do mandato de quatro anos.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes;economia brasileira cresceu 4,6% no ano passado Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

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Claro, isso é um problema do governo. Dirigentes são eleitos para, entre outras coisas, gerir a economia de forma competente, gerando recursos para suprir as necessidades do país em termos de infraestrutura, saúde, educação, segurança. Com a criação de empregos suficientes para que todos possam viver uma vida decente, com pelo menos as necessidades básicas supridas.

Não é o que temos visto. E, em favor de Bolsonaro e sua equipe econômica, também não é um problema localizado neste governo. Não temos visto isso há muito tempo. Os anos 1980 ficaram conhecidos no Brasil como a "década perdida", um período de crescimento muito baixo, inflação muito alta, renda per capita em queda. Mas o quadro que temos visto recentemente não difere tanto assim disso. Na última década, já enfrentamos uma recessão bem forte, entre 2014 e 2016. A inflação já superou em dois anos a casa dos 10%. Entre 2011 e 2020, o PIB per capita recuou, em média, 0,6% ao ano.

O governo Bolsonaro é um desastre em praticamente todas as áreas. Educação, saúde, segurança, meio ambiente, relações internacionais, democracia, em tudo isso o que o País viu foi um retrocesso. Não haverá nada de positivo a apresentar. 

Na economia, porém, até houve avanços, que devem dar frutos mais à frente. Reforma da Previdência e autonomia do Banco Central são alguns exemplos. Alguns têm potencial para atrair investimentos bilionários, como o novo marco das ferrovias. O marco do saneamento pode iniciar um processo para pôr fim a uma das principais mazelas do País: a enorme quantidade de pessoas sem acesso ao básico dos básicos, água limpa e esgoto tratado.

Mas, ao fim e ao cabo, a impressão que dá é que continua a faltar um projeto de País. Continuamos sem saber para onde vamos, o que queremos como nação. Temos um processo eleitoral em curso, mais uma chance de mudarmos o caminho errático que insistimos em seguir há tanto tempo. Mas os debates travados até aqui, o nível das discussões, infelizmente, até o momento, não permitem muitas esperanças. 

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*Editor-coordenador de Economia

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