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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|PIB ainda devagar, mas melhor do que o esperado

Para quem esperava pelo pior, o avanço de 0,4% não deixa de ser um alívio, mas decepciona quando confrontado com as expectativas do início deste ano

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Atualização:

A expectativa da maioria dos analistas era a de que se confirmaria uma recessão técnica (queda do PIB em dois trimestres consecutivos). Mas a nova foto é de certo avanço da renda, da produção industrial e do investimento. O voo é curto e a altura, baixa. Mas os sinais são mais encorajadores. Podem ser de mais do que o temido voo de galinha.

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A economia vinha de dois anos consecutivos (2015, 2016) de recessão e outros dois anos de PIB fraco (2017 e 2018). O primeiro trimestre deste ano havia mostrado novo tombo da renda (- 0,1%) e o o segundo, sabe-se agora, de avanço de 0,4%. Para quem esperava pelo pior, não deixa de ser um alívio.

Mas decepciona quando confrontado com as expectativas do início do ano que apontavam para uma alta de 2,55%, logo frustradas. Também decepcionam quando comparado com o que acontece com o rito de crescimento deste ano em outros emergentes, como China (6,2%), Índia (5,8%), Indonésia (5,4%), Filipinas (5,5%), Malásia (4,9%) e Colômbia (3,4%).

O consumo das famílias, que no segundo trimestre mostrou avanço de 0,3%, foi um dos itens da demanda que mostraram desempenho acima do esperado. É um resultado positivo que está relacionado com a queda da inflação (que melhorou a renda familiar) e com aumento firme do crédito. No entanto, um fator vai puxando em direção contrária: o alto desemprego que atinge nada menos que 12,8 milhões de brasileiros e o presumivelmente forte aumento do trabalho informal.

O relativamente bom comportamento da indústria de transformação, setor há alguns anos atacado pela desidratação, também surpreendeu: crescimento de 2,0% em relação ao primeiro trimestre. Tem alguma relação com o bom aumento dos investimentos, na medida em que ficou claro o aumento das importações de bens de capital (máquinas e equipamentos).

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O expressivo aumento de 3,2% nos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) foi produzido pelo avanço da construção civil do setor privado. O outro subsetor da área, o de obras públicas, continua emperrado. (As estimativas variam: há entre 5 mil e 8 mil obras públicas paralisadas no País.)

Esse crescimento dos investimentos não deve iludir. Para garantir um avanço do PIB de 3% a 4%, seria necessário investimento da ordem de 22% ou 23% do PIB. Mas este continua muito baixo, como mostra o Confira.

Ditado antigo e sempre atual diz que águas passadas não movem moinho. Então, é preciso olhar para as águas que vêm por aí. As apostas de que o ano apresente crescimento mais próximo de 1,0% parecem mais sólidas. Para que isso se confirme, será preciso que em cada um dos dois próximos trimestres a economia cresça 0,35%. Em princípio, o maior obstáculo para isso são as incertezas que cercam o ambiente internacional, especialmente o acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Mas o sufoco da Argentina também trabalha contra, dado o forte peso das exportações brasileiras para lá, hoje em queda.

Segundo os economistas,o PIB é um bom indicador de crescimento, mas não de desenvolvimento. Foto: Estadão

CONFIRA

» Poupar e semear 

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Poupança e investimento hoje são medidas do crescimento de amanhã. O brasileiro poupa e investe pouco. E nos últimos trimestres poupou e investiu menos ainda: algo acima dos 15% do PIB. Por isso, não pode garantir forte crescimento futuro. Ao contrário do que tanta gente afirma, poupança e investimento baixos não são consequência da relativa pobreza do brasileiro. O padrão asiático é muito mais alto. Mesmo quando pagava salários irrisórios, a China poupava mais de 50% do PIB e a Coreia do Sul, 33%.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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