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PIB argentino deve cair mais de 6%, diz Pastore

Por Agencia Estado
Atualização:

O PIB da Argentina deve recuar mais de 6% neste ano e a recuperação econômica será lenta. A estimativa é do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. A projeção leva em conta que na Argentina, ao contrário do que aconteceu com o Brasil em 1999, a desvalorização cambial tem um perfil fortemente contracionista, pois o passivo do setor privado argentino é fortemente dolarizado. Quanto maior o endividamento em dólar, mais as empresas são obrigadas a reduzir produção e trabalhadores para sobreviver à desvalorização. O mesmo aconteceu com as economias de México (1994) e do Sudeste Asiático (1997), que chegaram a encolher 4% e 6%, respectivamente, justamente por serem altamente dolarizadas. Só que a situação argentina é ainda pior, pois a economia do país vizinho é muito mais atrelada à moeda norte-americana, o que indica que a queda do PIB será maior. Há outros agravantes sérios, lembrou Pastore. "Falta apoio político para a implementação de reformas e para um eventual aumento de impostos, necessário para o equilíbrio fiscal. Além disso, o país enfrenta uma séria crise bancária e a recessão é profunda", disse Pastore, em palestra na Fecomércio. No caso da desvalorização brasileira de 1999, o quadro foi diferente e, por isso mesmo, houve surpresa com a alta de 0,8% do PIB registrado naquele ano as estimativas projetavam queda de 4% na atividade econômica. Aqui, o governo já vinha vendendo para o setor privado títulos da dívida pública e títulos cambiais antes de abrir a flutuação do câmbio, permitindo um acúmulo de ativos em dólar, um hedge de posições. Assim, os prejuízos do setor privado foram muito pequenos, ficando o emissor (governo) com o prejuízo. Prejuízo esse pago, na verdade, pelos contribuintes por meio do superávit primário. "O truque para isso dar certo está na capacidade de solvência do emissor. Aqui, o governo estava solvente e tinha apoio político para fazer ajustes. No caso argentino, o quadro é oposto e o país não saíra sozinho dessa crise", disse Pastore. Ele justificou a afirmação dizendo que se a Argentina aumentar a liquidez do sistema, o câmbio se depreciará ainda mais, levando um maior número de empresas a quebrar. Ao mesmo tempo, sem recursos a população não consome e a recessão se agrava. "É um impasse. E eles não podem subir os impostos, porque a economia já esta deprimida e o povo, nas ruas. A Argentina tem de renegociar cada centavo de sua dívida, refazer inteiramente seu regime monetário, fiscal, tributário e precisa de apoio externo e interno para isso", concluiu. Pastore minimizou a renúncia do presidente do Banco Central da Argentina, Roque Maccarone, dizendo que sua saída já era esperada, não muda em nada a política do governo Duhalde e não representa qualquer agravamento da crise argentina. Economia brasileira começa a se recuperar O Brasil começa a registrar um novo ciclo de recuperação econômica, apesar da crise argentina e da desaceleração da economia norte-americana. "Desde novembro, já estamos vivendo um turning point (virada), mas nada explosivo. É um crescimento lento, mas compatível com 2,5%", disse Pastore, que considera propícias as condições para a redução dos juros no Brasil. Além de uma melhora nos indicadores de produção industrial, que praticamente só deixa de fora o setor de bens de capital, Pastore destacou que os efeitos tanto da crise Argentina quanto da dos Estados Unidos sobre a economia brasileira está sendo muito menor do que se previa. Primeiro, explicou, porque a melhora nos saldos comerciais, com média móvel de US$ 700 milhões, teve impacto bastante positivo sobre a conta corrente. Neste ano, o câmbio continua estimulante. E mesmo com a recessão na Argentina e nos Estados Unidos, a balança comercial deve registrar superávit de US$ 5 bilhões neste ano, compatível com uma conta corrente de US$ 21 bilhões. Além disso, como o fluxo de capital estrangeiro deve continuar adequado em 2002, já que aos Estados Unidos resta apenas continuar injetando recursos na economia, se o Brasil receber US$ 18 bilhões em investimentos estrangeiros a pressão sobre o câmbio e a inflação será moderada. "Por isso, a perspectiva dos juros é só de queda", afirmou. No ano passado, acima de todas as expectativas, o fluxo de capital estrangeiro atingiu US$ 23 bilhões. Pastore descartou que, do ponto de vista comercial, praticamente não há risco de a crise argentina contaminar o Brasil. "Pode haver algum risco para as empresas calçadistas do Rio Grande do Sul, que concentram exportações para a Argentina, mas quem puder, vai desviar rapidamente as vendas para outras regiões. O fato é que a maior parte do comércio bilateral é feito entre montadoras. Dessa forma, o impacto da desvalorização argentina não será assim tão importante para nosso comércio", afirmou o professor. O único grande efeito que a crise argentina poderia ter sobre o Brasil seria no fluxo de capitais, mas como a política monetária dos Estados Unidos exige agora uma injeção permanente de liquidez no sistema, os investimentos estrangeiros continuarão altos, amortecendo a crise argentina. Leia o especial

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