A queda no PIB do 1° trimestre reflete efeitos incipientes da pandemia sobre a atividade econômica, ainda que os movimentos já apontem a direção das atividades que sofrerão mais ou menos neste ano. Os impactos da pandemia sobre a atividade devem ficar mais claros no 2° trimestre, cujas estimativas iniciais sugerem retração ao redor de 10% na comparação trimestral.
A abertura do PIB dá sinais sobre setores que sofrerão menos no ano, inclusive, encerrando o ano com expansão, como é o caso da agropecuária, com destaque para a produção de soja e pecuária, e dentro do PIB industrial, a parte extrativa, com suporte advindo da produção de óleo e gás e mineração.
Por outro lado, o segmento de serviços deve apresentar retração ainda maior nos próximos períodos, com destaque para aqueles ligados a famílias, que captarão não só impactos diretos do isolamento, mas principalmente a deterioração do mercado de trabalho, dado o aumento do desemprego e queda esperada para a renda.
Ainda em serviços, atividades ligadas a comércio, com destaque para bens duráveis como automóveis, sofrerão mais, dado que a demanda deve ficar mais focada em bens de primeira necessidade em detrimento de bens duráveis.
Na parte industrial, a construção civil e a indústria de transformação devem mostrar aprofundamento do movimento já observado no primeiro trimestre, diante do efeitos esperados para o setor imobiliário - queda nas vendas de imóveis e postergação das fases de construção de obras já lançadas – e, no segundo caso, impactos mais expressivos sobre a indústria automotiva e bens de capital.
Pela ótica da demanda, esse desempenho está ligado à retração mais expressiva esperada para consumo das famílias e investimentos. Neste sentido, a alta da formação bruta de capital fixo no primeiro trimestre deve ser relativizada, pois captou forte movimento de importação de bens de capital e plataforma de petróleo no início do ano que não se sustentará nos próximos períodos.
Em suma, os efeitos mais claros da pandemia no PIB ainda estão por vir e devem aparecer no segundo trimestre e na forma de recuperação ainda modesta no terceiro trimestre. Os riscos, entretanto, pendem para o lado negativo, diante do quadro de saúde que deve se impor, requerendo atitudes mais drásticas das autoridades.
Além disso, o ambiente político potencializa os efeitos adversos ao sustentar o nível de incerteza elevado, o que penaliza ainda mais investimentos e consumo.
*Alessandra Ribeiro é economista e Diretora de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências Consultoria.