PUBLICIDADE

PIB estagnado

Depois de uma recuperação tímida, a economia entrou em um período de estagnação

Por Mário Mesquita
Atualização:

Segundo o IBGE, o PIB brasileiro voltou a declinar no primeiro trimestre, com contração de 0,2% ante o anterior, com ajuste sazonal, e expansão de apenas 0,5% ante o primeiro trimestre de 2018. Levando em conta os dados já divulgados para o 2.º trimestre, as expectativas de crescimento do PIB em 2019 podem migrar de 1% para cerca de 0,5%. Como o PIB cresceu apenas 0,1% no quarto trimestre passado, a conclusão é que a economia, depois de uma recuperação tímida, entrou em um período de estagnação.

PUBLICIDADE

O PIB do primeiro trimestre foi influenciado pelo desastre de Brumadinho e por problemas climáticos, ambos de natureza transitória. Mas a estagnação começou antes e dá sinais de estar se prolongando. Esse quadro é explicado, em primeiro lugar, pela persistente incerteza sobre o encaminhamento de reformas essenciais para equilibrar as contas públicas. Com isso, os agentes econômicos continuam vendo riscos de aumento na carga tributária, crescimento da dívida pública e inflação. Tudo isto afeta a decisão de investir, que é feita olhando o longo prazo. A letargia dos setores de infraestrutura e construção também atrapalham.

Esses fatores contribuem para a fraqueza do investimento – no primeiro trimestre, enquanto o consumo das famílias apresentou expansão de 1,2%, em termos anualizados, o investimento contraiu a um ritmo anual de 6,5%. Considerando o auge da atividade (no primeiro trimestre de 2014) como índice 100, o PIB encontra-se em 95, o consumo das famílias em 97, do governo em 99, enquanto o investimento ainda está em 73, pouco acima do ponto mínimo.

Em segundo lugar, a economia global vem desacelerando, e existe um risco relevante de deterioração adicional, combinada com aumento da percepção de risco, advinda de uma potencial guerra comercial. Seus impactos já estão sendo sentidos no Brasil, vide a forte contração das exportações observada nos dados do PIB (queda anualizada de 7,4%).

Por fim, nossa taxa de juros de equilíbrio parece ter se reduzido recentemente, em decorrência dos cortes nas despesas do governo e redução dos subsídios ao crédito. Assim, o nível atual de taxas de juros não parece ser suficiente para acelerar a economia. Apesar disso, uma flexibilização monetária feita antes de que os problemas fiscais sejam equacionados seria contraproducente, pois poderia afetar a taxa de câmbio e, consequentemente, gerar pressões inflacionárias.

Dessa forma, a aprovação da reforma da previdência é uma condição absolutamente necessária, mas não suficiente, para que a economia volte a crescer: além do estímulo ao investimento induzido pela confiança, a reforma abre espaço para a implementação de estímulos monetários. No médio e longo prazos, igualmente importantes são as reformas microeconômicas. O que se deve evitar, evidente, é, no afã de acelerar a recuperação, retornar ao voluntarismo fiscal e aos excessos de intervenção estatal que nos trouxeram até aqui.

*ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.