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Pilotos brasileiros relatam castigos e jornada de até 16 horas na China

Depois dos russos e sul-coreanos, brasileiros são os profissionais mais cobiçados pelas companhias asiáticas

Por Renato Jakitas
Atualização:

Denis Franklin Ferreira desembarcou no sul da China em 2015 com a mulher e planos de fazer uma poupança para a família. Ele tinha acabado de pedir demissão depois de nove anos como comandante de voo na Gol e viajava para a Ásia atraído pelos altos salários do país, que vive um déficit de mão de obra na aviação há mais de uma década e é um dos principais destinos dos pilotos brasileiros.

Com salários de até R$ 65 mil por mês, a China hoje emprega cerca de 200 pilotos brasileiros, segundo estimativas dos próprios profissionais. Após os russos e sul-coreanos, os pilotos do Brasil são os mais cobiçados pelas empresas asiáticas.

Denis Franklin Ferreirae seus dois copilotos – um deles é intérprete Foto: Acervo Pessoal/Denis Fraklin Ferreira

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De acordo com entrevistados, o problema é que, uma vez instalados na China, os brasileiros enfrentam uma realidade distinta da comunicada pelos headhunters e empresas de recolocação de pessoal. “De cara, 45% do salário fica em impostos. E a cultura do castigo é muito grande. Se a empresa entender que você cometeu um erro qualquer, aplicam multas”, diz Ferreira. “Já vi multas de 65% do salário.” 

“No fim das contas, fica elas por elas. Eu ganho a mesma coisa na China do que ganhava no Brasil”, conta o piloto, que está nos EUA aguardado o nascimento do segundo filho e a transferência para uma nova posição, na Hainan Airlines, a maior companhia aérea da China, onde deve ganhar um pouco mais. “Vai demorar uns três meses.”

Outras queixas dos brasileiros na China recaem sobre a dificuldade de comunicação. Muitos voam com dois copilotos, sendo que um deles é, apenas, tradutor de idiomas. Há queixas também sobre as jornadas extenuantes de trabalho. A legislação local permite até 16 horas de trabalho diário (mil horas por ano), além de escalas intercaladas entre dias e noites, situação que causa fadiga nos profissionais.

“Pegamos sempre as piores escalas. Trabalhar 12 horas aqui é a regra e, um dia, estamos voando de manhã para, no outro, assumir a aeronave às 21h e aterrissar às 7h, sabe-se Deus em quais condições”, diz Ricardo Mendez, ex-piloto da Varig, que vive na China desde 2003. “É como se eles quisessem estourar o estrangeiro”, diz outro comandante egresso da Webjet. “Vim para a China há seis anos, com um grupo de 20 pilotos. Hoje, restaram quatro.”

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