O papel de defensor dos “pobres e paupérrimos” encarnado pelo presidente Jair Bolsonaro serve para aumentar apoiadores, mas revela que o governo ainda está muito perdido sobre o que fazer no “dia depois” do fim do auxílio emergencial dado à população vulnerável durante a pandemia da covid-19.
O relógio está correndo contra o presidente e sua equipe. E não apenas para a equipe econômica do ministro Paulo Guedes, mas para todo o governo federal e também os seus líderes no Congresso.
Afinal, o presidente e a ala política do governo colocaram “olho gordo” no potencial do auxílio para aumentar a popularidade do presidente em meio às críticas por causa da atuação do governo federal no combate à pandemia.
Cobraram a elaboração de um “programa social” novo rápido e mais encorpado do que o Bolsa Família, sem se dar conta que esse Renda Brasil sonhado não cabe no Orçamento e na regra do teto de gasto - que todos eles assumiram em manter.
Passados tantos meses de discussão do ajuste fiscal, não dá para dizer que o presidente e os seus fiéis ministros palacianos não sabiam até o dia de hoje do que se tratava a “desindexação” do Orçamento. Sabiam.
Essa palavrinha foi dita pelo ministro Guedes desde o primeiro dia de governo e também na transição no que ele apelidou de “DDD” - desvinculação, desindexação e desobrigação - e repetidas por ministros e líderes.
O governo não quer mexer em outras despesas ineficientes e, ao contrário, continua trabalhando para manter os privilégios dos “amigos” do presidente, como se viu no episódio do perdão das multas das igrejas.
As opções discutidas são as piores para o momento. O próximo bode expiatório está a caminho. Permanece a dúvida: o presidente desistiu do Renda Brasil como conceito de reestruturar os programas sociais, mas vai tentar estender o auxílio emergencial? O piti de hoje do presidente de nada ajuda.
*Repórter especial de Economia em Brasília