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Planalto fala em ''''efeito marginal''''

Instabilidade global faz governo rever projeções, mas sem perder otimismo quanto ao crescimento da economia

Por Expedito Filho
Atualização:

A crise financeira mundial, marcada pela desaceleração da economia americana, é o primeiro teste do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após um período de cinco anos com dinheiro fácil e bons ventos de Wall Street. Ela ainda não chegou ao Brasil, mas já comprou passagem e promete fazer de 2008 um ano muito diferente daquele que passou. No Planalto, a instabilidade global virou assunto do dia, provocou uma reavaliação dos prognósticos para este ano, mas não derrubou o otimismo em relação ao crescimento econômico. "O que pode acontecer é que deixaremos de ter um ano espetacular para ter um ano muito bom", avaliou para o Estado um ministro da casa. No coração do poder, a idéia é não superestimar a crise. O otimismo só não é maior porque o governo brasileiro ainda não tem uma noção clara da dimensão do que está acontecendo nos EUA, mas a orientação política é não temer pelo futuro próximo. "A ordem do presidente para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é manter os olhos abertos e focados na crise, mas sem ficar nervoso", resumiu um assessor direto do presidente. Entre os principais assessores de Lula, diferente do que aconteceu nos anos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), existe a crença absoluta de que o País fez o dever de casa e se encontra preparado para enfrentar a ameaça externa. Até no caso de uma recessão, a previsão chapa branca é que o País seria afetado "apenas de forma marginal." Com US$ 185 bilhões de reservas, o Ministério da Fazenda não precisará recorrer a empréstimo-ponte junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para responder a um ataque especulativo. Além disso, o País reduziu suas exportações para os EUA para 17% e impulsionou a economia, distribuindo renda por meio de programas sociais. "Tudo isso era contestado antes, mas agora a crise está demonstrando o quanto as medidas foram acertadas. O volume das reservas foi criticado, a redução das exportações para os EUA e até o Bolsa-Família", ironizou o ministro palaciano. CORTAR GASTOS Apesar de concordar com a avaliação positiva da equipe do presidente Lula, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) recomenda atenção. Ele acredita que é hora de pôr em pauta a discussão em torno da reforma tributária, para recuperar a perda com a CPMF, mas considera necessário o ajuste fiscal. "Devemos cortar gastos e reduzir despesas correntes e preservar políticas sociais nas áreas de saúde e educação. Esse é o momento para uma saída criativa." A primeira crise global no horizonte do governo Lula tem sido encarada de forma cautelosa pela oposição. A indefinição da real dimensão e profundidade do problema reduziu o debate a uma discussão retórica. Como não está claro se trata de desaceleração ou recessão da economia americana, as críticas continuam dentro do jogo de um ano eleitoral. O senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, por exemplo, enxerga no fim da farra de gastos o sinal para que o Planalto se credencie a uma negociação séria com a oposição, caso a crise se agrave e atinja o Brasil. "O governo vai ter de acabar com esses gastos com diárias, cartões de crédito, passagens e ampliação dos cargos de confiança. Vai ter de enfrentar a tragédia fiscal porque está gastando mais do que arrecada." Baseado em avaliações de banqueiros brasileiros, como o economista Octavio de Barros, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco - que trabalha com uma taxa de crescimento da economia de 4,5% para este ano, com viés de alta -, o governo continua apostando no descolamento da neurose econômica e acredita que nunca em sua história o Brasil esteve tão sólido diante de uma ameaça externa de crise financeira global.

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