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Plano de recuperação da Cândido Mendes prevê venda de imóveis e desconto em dívida trabalhista

A universidade, que está em recuperação judicial há dez meses, tem dívidas de R$ 170 milhões com trabalhadores; imóveis que podem ser vendidos, a maioria no centro do Rio, estão avaliados em R$ 500 milhões

Por Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

RIO - Dez meses depois de entrar em recuperação judicial, a centenária Universidade Cândido Mendes (Ucam) se prepara para apresentar em abril seu plano de recuperação aos credores. O plano propõe vender parte dos imóveis da instituição no Rio de Janeiro, avaliados em cerca de R$ 500 milhões. Aos credores trabalhistas, que respondem por 71% da dívida, será oferecido deságio de 35%, desconto considerado inédito por Luiz Roberto Ayoub, ex-juiz da recuperação judicial da Varig, nos anos 2000, e hoje consultor do processo pelo escritório Galdino & Coelho Advogados.

A classe trabalhista (classe 1), cuja dívida confessada é estimada em R$ 170 milhões, será paga em até dois anos e meio, podendo ser quitada antes, dependendo da venda dos imóveis. Para Ayoub, a revitalização do centro do Rio, projeto que propõe transformar a região em um bairro misto (residencial e comercial) deve melhorar e ajudar a monetizar os ativos. 

Universidade Cândido Mendes (Ucam) Foto: Ucam/ Reprodução

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Para a classe 2, para devedores com garantia real, a proposta é de pagamento em até oito anos. É o caso do Banco do Brasil, que tem de cerca de R$ 2 milhões a receber da Cândido Mendes. Para a classe 3, formada principalmente por condomínios atrasados e outros fornecedores, a proposta é de deságio de 50%, enquanto os micro e pequenos credores (até R$ 30 mil), devem receber na totalidade ainda este ano, se a proposta for aprovada pela assembleia em abril.

"Cada uma dessas classes está fazendo um desconto muito conservador por minha orientação, como consultor. Nunca fui favorável a hipóteses que chegam à raia do absurdo de 80% a 90% de desconto. O credor, com o coração sofrido, aceita qualquer coisa, mas isso é uma confissão de inviabilidade", disse Ayoub ao Estadão/Broadcast.

Muito pelo contrário, disse o ex-juiz e desembargador: o fluxo de caixa da Ucam cresceu, mesmo em plena pandemia e dentro de um processo complexo como uma recuperação judicial, o que possibilitou um menor deságio para a classe trabalhista.

Segundo Ayoub, existe ainda a previsão da "Nova Ucam" abrir capital, mas quando houver fluxo de caixa suficiente para não comprometer o funcionamento da instituição.

"Está prevista a possibilidade de se transformar em sociedade empresarial no momento em que for possível. Enquanto o fluxo de caixa for necessário para garantir o funcionamento não é possível, mas ela vai fazer isso, está crescendo em um 'V' bem íngreme", afirmou o consultor. Ele diz confiar na aprovação do plano pelos credores, porque "a falência não é boa para ninguém."

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De acordo com Cristiano Tebaldi, pró-reitor comunitário da Cândido Mendes, a instituição economizou R$ 27 milhões, nos 10 meses de recuperação judicial, apenas com reestruturações internas. Entre elas, a criação de uma central de serviços compartilhados - antes cada um dos 13 campus universitários tinha uma administração própria -, renegociações de contratos e mudanças de unidades antigas para mais novas, com redução de aluguel.

"Internamente, observamos que o processo de recuperação tem caminhado com êxito, porque muito da reestruturação já vem sendo feita. Fizemos um grande ajuste acadêmico e está em processo um ajuste administrativo, que tem otimizado recursos", diz Tebaldi. A Ucam não deixou de funcionar durante a pandemia.

A recuperação judicial teve como uma das motivações a queda do quadro de alunos, que já chegaram a somar 24 mil na instituição e em março do ano passado beiravam os 10 mil, sendo 8 mil presencial e 2 mil pelo sistema de ensino a distância (EAD). Com a pandemia, todas as aulas migraram para EAD. Tebaldi diz que a instituição está pronta para voltar ao ensino presencial, assim que as autoridades sanitárias liberarem.

"Em nosso plano de reestruturação, temos para a meta 2020-2021 manter a base de alunos de 2020 e 2021 no presencial e ampliar o EAD. Assim foi feito: mantivemos a base de 7,8 mil alunos no presencial, o que é uma perda ínfima no meio de uma pandemia e comparada a outras instituições, e o nosso EAD passou para 4.150 alunos, ou seja, mais que dobrou", disse o reitor.

Até o fim do ano, a previsão é que os alunos inscritos nos cursos EAD dobrem novamente. No presencial, a expectativa é de retorno no segundo semestre com o avanço da vacinação, com 11,5 mil alunos.

De acordo com Tebaldi, a ideia inicial é colocar à venda imóveis desocupados: um edifício inteiro de 11 andares na Praça Pio X, em frente à Igreja da Candelária, e quatro andares na Rua da Assembleia, ambos no centro do Rio, além de um grande imóvel no qual funcionava o Centro de Estudos da Ucam, na Estrada das Canoas, no bairro de São Conrado, zona sul do Rio.

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