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Plano do FMI sobre reservas pode emperrar em emergentes

Por ANA NICOLACI DA COSTA
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Uma proposta do Fundo Monetário Internacional (FMI) para criação de reservas comuns pode não ser a melhor maneira de reequilibrar a economia global, uma vez que as potências emergentes provavelmente não vão abrir mão dos recursos acumulados que foram úteis durante a crise. Em vez disso, o sistema econômico deve se equilibrar automaticamente, à medida que países como Brasil e Rússia diversificam suas reservas internacionais além do dólar. A proposta do FMI pode começar a aparecer nas discussões do G20, que se reúne nesta semana na Escócia para buscar definir uma estrutura que ajude no equilíbrio econômico. O ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, disse à Reuters nesta quinta-feira que as autoridades financeiras discutirão como gerenciar o excesso de reservas globais O desequilíbrio foi construído, em parte, com os gastos de consumidores norte-americanos que se beneficiavam do setor imobiliário em alta e do crédito. Enquanto o déficit comercial dos EUA crescia, as reservas cambiais de países superavitários como a China, dentre outros, decolaram. Na Ásia, países também foram motivados a acumular grandes reservas como maneira de se proteger de crises econômicas. A ideia do FMI é que reservas comuns reduzirão a necessidade de grande acumulação por parte de mercados emergentes porque eles terão acesso ao capital multilateral em tempos de crise. O Fundo argumenta que, caso seu plano funcione --e ele está somente no estágio de discussão--, os países serão capazes de fazer um melhor uso de seus recursos ao direcioná-los para os tão necessários gastos com infraestrutura, educação e saúde. Mas a proposta da instituição ainda é vaga e alguns países que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) já têm demonstrado dúvidas se pode funcionar. "A melhor alternativa é a autoproteção", disse o presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, por meio de um porta-voz. O Brasil aproveitou o colchão durante a crise de crédito global para manter a liquidez e sustentar a economia. "Por ora, não estamos enxergando isso de maneira alguma, porque não há nada de concreto", afirmou Andrei Bokarev, uma autoridade do Ministério de Finanças da Rússia. Persistem dúvidas sobre quem contribuirá, quanto e se o FMI vai impor condições acerca de quando os países poderão acessar as reservas comuns. Dados do FMI mostram que as economias emergentes e em desenvolvimento detêm 4,2 trilhões de dólares da quantia total de 6,8 trilhões de dólares em reservas globais. A China possui mais de 2 trilhões de dólares, seguida por Rússia, com mais de 400 bilhões de dólares, e por Brasil e Índia, com mais de 200 bilhões de dólares cada. "Abandonar o autoseguro como estratégia só faz sentido num contexto em que você tem acesso garantido a liquidez automática e sem condicionalidade", disse uma autoridade do Ministério da Fazenda do Brasil, sob condição de anonimato.

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